terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O HACKER E O HAITI

Recebi um mail da cruz vermelha bastante melodramático, pedindo contribuição para o Haiti. No final do breve e emocionante texto, um link onde clicar para poder fazer a doação. Obviamente era um arquivo executável mandado por algum hacker. Vou deixar de lado o totalmente batido tema da exploração de todos os tipos de canais virtuais, ou não, para explorar o próximo. Achei tão engraçada, embora trágica, a situação, que cheguei a responder o mail ao hacker, dizendo:
"diante dos 375 milhões que o lula mandou ao Haiti, seria melhor você mudar a motivação do seu engodo para: vamos recuperar o dinheiro mandado pelo Lula ao Haiti"

Ninguém tenha dúvidas quanto a minha humanidade. Mesmo tendo vivienciado as catástrofes climáticas de 2008 aqui de Santa Catarina e visto o consultório de Itajaí com 1 metro de água, não consigo, nem de perto, imaginar o drama de um terremoto (e espero que nunca consiga). É claro que precisamos ser solidários, mas, se realmente foi mandado R$ 375.000.000,00 pelo governo brasileiro (G1, globo.com, 21/10/2010), já ajudamos monetariamente. Afinal, de onde vem o dinheiro do governo brasileiro? Dos impostos, impostos, impostos, impostos, impostos, impostos, impostos, impostos, impostos, impostos, impostos, impostos, impostos, impostos... que pagamos todos os dias. Então eu já ajudei. O povo brasileiro já ajudou.

E acho justo ajudar dessa forma. Mas acharia justíssimo se o governo fizesse uma destinação específica sobre determinados impostos para estes fins. E que soubéssemos quais são, para que quando eu colocasse uma colher de feijão no meu prato, pensasse que um pouco do que paguei por ele estivesse ajudando alguém a também ter um pouco de feijão no prato. De maneira clara.

Assim como seria interessante saber qual imposto específico está me dando estradas bem conservadas para viajar; boas escolas para nossos filhos estudarem; bons hospitais... bem, se for por esse rumo fico a noite toda escrevendo.

O Haiti precisa de ajuda. Nós também. Mas precisa mesmo de ajuda consistente e futurista. Depois de passado o caos, de matada a fome com ajudas internacionais, deixar esse povo viver, ajudando-o através de aberturas comerciais e culturais. Não seria melhor que mandar tropas do exército?

Estou tocado pelo povo Haitiano, ainda mais lendo a crônica da Urda, logo abaixo. Mas também estou tocado pelos paulistanos ilhados pela chuva num dos maiores amontoados urbanos do mundo. Pelos blumenauenses que ainda moram em abrigos subumanos. Por todos os brasileiros que estão também sofrendo com as intempéries deste caótico clima, que muitos cientistas estão tentando me convencer que não tem nada a ver com o que fazemos com ele.

Estou tocado pela imensa ajuda que damos a todos estes desabrigados, cada dia, a cada colher de feijão.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O REI E O MENINO – HAITI


Crônica escrita por Urda Alice Klueger, que gentilmente concordou que eu a postasse.


(Para Didier Dominique e o povo do Haiti)
(e para meu pai, Roland Klueger, que faria 88 anos hoje.)
Era uma vez um rei e um menino. Fico pensando se há alguma palavra que signifique, ao mesmo tempo, exaustão, terror, desespero e desesperança, tudo isto somado e elevado a décima potência, mas não encontro tal palavra. Só que era bem assim que estava o menino: tinha dois anos, encolhia-se de olhos catatônicos no vazio de uma calçada logo depois do terremoto do Haiti, e apareceu na televisão. Eram tantos em desespero em torno dele, eram tantos... Eram tantos os mortos em torno dele, eram tantos... Quem conseguiria prestar atenção em mais aquele menino dentro de tanta desgraça, a não ser aquele olho malicioso de uma televisão, que pegou o menino e o jogou no meu colo, sem que eu soubesse o que fazer com ele?
Era uma vez um rei e um menino. O rei era pura saúde, garbo e fidalguia: vestido com trajes tribais, tinha no rosto e no corpo os mesmo desenhos em branco, preto e vermelho que também estavam no escudo de couro que segurava na mão esquerda, pois na direita segurava a lança segura e certeira que o tornara rei tamanha a sua perícia ao caçar o leão. Ele era grande e espadaúdo, mas maior ainda era a sua fama, pois não só ao leão enfrentava: quando seu povo tinha fome, ele afrontava até os grandes elefantes, e todos viviam felizes no seu reino, bem alimentados e saudáveis, e o rei era feliz também.
Certo do poder da sua felicidade e da sua lança, o rei nunca entendeu como lhe caíra em cima aquela rede que o despojara do seu escudo, da sua lança, da sua força e da sua liberdade – como tantos outros da sua terra, teve que se curvar à chibata do traficante, aceitar a gargantilha e as algemas de ferro, resistir à longa caminhada da coleante corrente feita de gente e de ferros, viver a aviltância do navio negreiro.
A saúde antiga deu-lhe forças para chegar vivo àquela terra de degredo, de escravidão, e cruéis homens brancos de outra fala, à força de chicote, subjugaram-no e ele teve que se curvar, sem lança, sem pintura, sem escudo, e cultivar a cana que produzia o açúcar, o rum e a riqueza daqueles usurpadores da sua liberdade. Nunca mais ele foi feliz; nunca mais soube do seu povo e seu povo nunca mais soube dele, e só o que havia de belo era o mar daquela terra, todo verde, azul e transparente. Houve, também, uma mulher que reconheceu nele a fidalguia conspurcada, e antes de morrer prematuramente, o rei teve um filho, negro e lindo como ele, e que na verdade era um príncipe – mas foi um príncipe que nunca teve uma lança e que não conheceu os desenhos e as cores tribais – ao invés de leões, só houve para ele o látego do algoz.
Outros príncipes foram gerados na descendência do rei, naquela terra que parecia incrustada num mar de turmalinas, e todos tiveram a vida miserável de escravo, enquanto seus senhores tinham as vidas nababescas dos poderosos.
Um dia, já não dava mais de suportar. Eles eram mais de 500.000 negros, e os senhores eram 32.000, certos que a força do látego manteria aquela situação indefinidamente. E junto com os demais escravos os descendentes do rei lutaram e lutaram e venceram – desde 1791 a 1803 – nesse último ano venceram até o exército que Napoleão Bonaparte mandara da França. E conquistaram a liberdade!
O Haiti foi o primeiro país da América dita Latina a ser livre, a fazer a independência, isto lá em 1804, antes de todos os demais. É de se imaginar o frio que correu na espinha de tantos outros colonizadores brancos: uma república, e de negros? E se a coisa pega? Olha que escravo está tudo cheio por esta América de meu Deus! Que se faz, ai ai ai?
De modo geral, o que se podia fazer eram independências rápidas, feitas por brancos (e elas aconteceram uma depois da outra) e muita matança de negros, para evitar que a coisa trágica se repetisse e sujasse o bom nome da dita civilização européia! Sei bem como foi tal matança no Brasil: foi na guerra do Paraguai, foi na revolução Farroupilha... – não estou inteirada de como foi nos outros países, mas que a matança foi grande, lá isso foi. E a “civilização” branca quase pode respirar, aliviada – só que havia aquele pequeno país, aquele maldito pequeno país lá incrustado naquele mar de ametista, o tal do Haiti, que era um país de negros – e nunca que a tal “civilização” branca poderia deixar aquilo lá florescer de verdade – era afronta demasiada.
E nos dois últimos séculos o Haiti sofreu tudo o que é possível sofrer-se para que sua crista se quebrasse: invasões, ditaduras, golpes de Estado, o bedelho dos brancos sempre indo lá e tentando botar tudo a perder, mas a valentia daquele povo parecia indomável, e o Haiti, mesmo não conseguindo florescer como deveria, era exportador de café, de arroz, era o maior produtor de açúcar do mundo, era um país que tinha seus filhos bem alimentados a arroz, a banana, os porcos abundavam e produziam pratos deliciosos, acompanhados de banana frita, iguaria tão caribenha...
Foi agora, agorinha, no tempo da violência do neoliberalismo, o que nos leva a 1980, que o complô dos brancos resolveu que já não dava mais, que era muito absurdo em plena América ver um país de negros sobrevivendo e sobrevivendo impunemente... Então foi programada a tomada definitiva do Haiti. Foi daquelas coisas mais malévolas que as mentes doentias podem programar visando lucro: aos poucos, introduziram-se as pragas necessárias na ilha incrustada num mar de safira, e morreram todos os porcos, e depois todo o arroz, e depois toda a banana, e depois veio a praga do café.. . Aqueles negros corajosos não sobreviveriam, ah! La isso não poderia acontecer! Viveriam apenas para voltar à condição de escravos, e igualzinho como os europeus, em 1885, no Tratado de Berlim, dividiram o mapa da África à régua, causando as milhares de desgraças que estão acontecendo até hoje, os brancos do neoliberalismo pegaram o território do Haiti e o dividiram em 18 futuras zonas francas onde não haveria lei, onde o Capital imperaria, e onde, as pessoas tão famintas que estavam assando biscoitos de argila para poderem ter algo no estômago trabalhariam, de novo, em regime de escravidão. Pode parecer que tal coisa é distante de nós, mas não é. O próprio vice-presidente do Brasil, José Alencar, é alguém tão interessado no assunto que até mandou seu filho para lá para cuidar dos seus futuros interesses imperialistas. E o execrável outro dia ainda saiu do hospital, depois de mais algumas cirurgias, sorrindo para as câmaras das televisões e declarando que poderia perder tudo na vida, menos a honra. Que honra pode ter um homem assim?
(Não consigo me furtar de contar de que forma a nefanda honra do vice-presidente atingiu diretamente minha família, recentemente. Numa só tarde, uma das empresas dele, aqui na minha cidade de Blumenau/SC/Brasil, a Coteminas, demitiu 600 empregados, assim sem mais nem menos. Três primos meus, lutadores pais de famílias, perderam o emprego sem entenderem muito bem por quê – o porquê é fácil: nas novas fábricas que o “honrado” vice-presidente anda montando lá nas zonas francas do Haiti, os novos empregados trabalharão pela décima parte do salário que os meus primos ganhavam – e o salário dos meus primos já não era grande coisa.)
Bem, então tínhamos um Haiti em petição de miséria, e daí veio o terremoto. Que poderia ter acontecido de melhor para o Capitalismo e o Imperialismo dos EUA? Até o palácio presidencial do governo títere ruiu – daqui para a frente é apenas tomar posse – já não há barreiras. Ao invés de ajuda humanitária (que eles não deram nem aos flagelados do furacão Katrina, em seu próprio território) os Estados Unidos estão, descaradamente, diante de todo o mundo, fazendo a ocupação militar do Haiti com o seu exército, e tudo parece bonitinho, com a Hilary indo lá para ver como é que estão ajudando... ajudando uma ova! Alguém já viu os Estados Unidos ajudar alguém de verdade?
Não deixo de louvar as tantas e tantas equipes de tantos e tantos países que lá estão, realmente levando ajuda humanitária para aquele povo quase que nas vascas da agonia – mas a semvergonhice do Capital está lá, também, sorrindo de felicidade com sua cara de caveira.
E então o olho de uma televisão espia lá aquele menino de dois anos arrasado pela exaustão, pelo terror e pelo desespero, encolhido num vazio de uma calçada, e o joga brutalmente no meu colo – e quando tento acalmá-lo acolhendo-o junto do meu coração, ele me conta do rei, seu antepassado – aquele menino moído pelo Capital e pelo terremoto é nada mais nada menos que um príncipe, e seu antepassado que foi rei e livre caçava leões e elefantes e alimentava um povo – o menino sabia, a família sempre contara adiante o seu segredo.
Céus, céus, o que fizeram com as gentes livres da África, que quiseram apenas continuar vivendo com dignidade naquela ilha de onde já não podiam sair? Quem vai cuidar daquele menino antes que ele retorne à condição de escravo de onde seus antepassados tanto tentaram sair?
Eu choro, Haiti, choro por ti, e por teu menino, e por aquele rei. Não sei fazer outra coisa além de chorar.

Blumenau, 17 de janeiro de 2010.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

ANARQUISMO - A Ilusão do Sufrágio Universal


Abaixo o proselitismo... mas o anarquismo ficou na memória coletiva como bagunça, ausência de ordem. Os próprios seguidores confundiram as coisas. Muita gente não sabe que o significado real é ausência de governo hierárquico. Quando vemos o quadro político brasileiro através do prisma do pensamento anarquista, temos bastante a refletir.


Vejam o que Mikhail Bakunin ( 1814 – 1876), o russo que foi um dos pilares do movimento, escreveu, lá no século XIX:


A Ilusão do Sufrágio Universal


"Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Esta minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo.
Quem duvida disso não conhece a Natureza Humana”


que modernidade!!!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

COMBUSTÍVEIS ELEITORAIS


to aceitando apostas.

preço do açucar no mercado internacional?

pouca produção de álcool devido as chuvas?

Nada.

Os usineiros estão fazendo um caixa enorme, pra depois, mais perto das eleições, no limite em que a memória popular não se apague até o dia do voto, o Lula, num esforço espetacular vai negociar uma baixa dos preços do álcool (e dos combustíveis em geral)... fantástico!!!


nota: na argentina (onde a Petrobrás está produzindo petróleo e gás natural) o preço da gasolina gira em torno de R$ 1,50.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

MEU PRIMEIRO CONTO DE NATAL




Natal de 1997 (O Desaparecido)


Engarrafamento!! Aqui nunca tem engarrafamento. Faz meia hora que estou tentando chegar em casa e não saio daqui. É sempre assim quando a gente está com pressa. Pressa? Eu não estou com pressa. Estou cansado, mas não estou com pressa... e nem faz meia hora que estou aqui... nem dez minutos... acho que cinco minutos. Só quero chegar em casa e dormir, apagar.


Amanhã ainda é segunda-feira. Por que fui sair da casa no domingo? Parece que todo mundo saiu de casa este domingo. Fim de semana que vem vou ficar em casa e descansar, é só disso que estou precisando agora...
Antes de dormir, tentei ordenar todos os problemas que queria resolver até o fim do ano e descobri que não conseguiria solucionar nem a metade. Devo confessar que me deixei invadir de tristezas, por trabalhar tanto e não conseguir, ao menos algum tempo de necessária paz. No meio desta tristeza lembrei de um hábito, há muito esquecido, e vasculhei, lá no fundo do peito, uma prece. Pedi a Deus, pois a ele só havia aprendido a pedir, que me mostrasse um caminho onde resolver minhas dificuldades e viver com um pouco mais de calma.
Pela manhã o sol se infiltrou pela fresta da cortina e me avisou que a chuva não veio. Quis até ficar alegre, mas descobri que já passava das 8:00 horas, dormi demais e tinha paciente marcado as 8:30...
— Olha, diz que vou atrasar uns minutinhos... é, mas chego logo...
Abri o portão da garagem e a luz do dia embaralhou, momentaneamente, a minha percepção das coisas. Saí lento, sem enxergar muito bem e, enquanto a visão ia voltando, vi que, do outro lado da rua, sentado no meio fio da calçada, havia um menino. Ainda não tinha visto aquele pelas redondezas.
Estava sozinho, descalço, com uma bermuda bem surrada e sem camisa. Com um canivete, empenhava-se em apontar um pedaço de madeira roliça, parecia um cabo de vassoura quebrado e tinha já, ao seu lado, mais dois pedaços apontados. Acostumei rápido com a claridade e fui embora, mas fiquei olhando pelo retrovisor o moleque brincando sozinho...
Lanças? Traves? Sei lá! Infância. Eu estava atrasado e tinha que correr, mas não conseguia, deixei-me levar na lembrança de um tempo que permiti escorregasse pelas frestas do destino, sem maiores registros. A paciente estava com a cara amarrada e o dia todo foi igual, como os outros... segunda-feira...
No outro dia acordei a tempo e percorri a rotina das minhas atitudes reflexas, até tirar meu carro para a rua. E lá estava ele de novo, agora no terreno baldio ao lado. Um tênis velho, uma bola velha, acho que a mesma bermuda. Nove anos, talvez dez. (Deve ter mudado pra cá por estes dias). Chutou a bola na parede e recebeu de volta, fez a ginga, driblou um provável zagueiro, rolou de lado e soltou a bomba... bomba mesmo! Passou por cima do muro e explodiu na parede de madeira da casa do fundo. Bola pra um lado, craque pra outro. Ficou atrás do pilar do estacionamento do prédio, olhando o que ia acontecer e eu fui embora, mais uma vez lento, navegando por tempos esquecidos, de campinhos de esquina e bolas furadas, vidraças quebradas, canela suja de terra e um tênis sempre por lavar.
Era terça-feira... Deus!! Terça-feira, 23 de dezembro. O Natal taí e hoje ainda vou trabalhar. Ano que vem não faço mais isso...
Quanto tempo faz que eu me perdi no caminho, pensando andar correto, que era assim mesmo que tinha que ser? Quanto tempo faz que eu caí neste funil de pressas e contas, e deixei de ver o sol amanhecendo nossas vontades de gostar da vida e, à tarde, ter a sensação que está tudo certo para a noite, está tudo certo para amanhã, indiferente de tudo que eu tenha pra fazer amanhã?
Quando foi que eu transformei vontades em hábitos, passíveis de serem trocados por necessidades, sempre mais importantes?
Lá estava ele na manhã de Quarta, com a cabeça quase encostada no chão, fazendo pontaria na peca mais perto. Atirou e bateu com a mão na terra, tomado de rápida irritação. Tinha errado, feio. Pegou a bolinha de novo e voltou à mesma posição... mais uma vez... outra ... acertou e socou duas vezes o ar.
Brincava sozinho e nem me notava, como se eu fosse mais um dos elementos dispensáveis da sua natural felicidade. Lá fui eu de novo, caminhar no tempo, como se eu pegasse aquele menino pela mão e ele fosse me mostrando alegrias esquecidas, por um caminho onde pensei que nunca mais passaria. Tinha desmarcado os pacientes e parei em frente à praia, deixei o relógio em casa e esqueci, por um dia, do tempo...
Um dia eu sei que quis tudo diferente, e pensei em amores e amigos como a base, o solo firme onde construir meu destino. Mas, o que eu fiz pelos amores e amigos, para que eles tivessem vontade de participar no meu destino? Hoje eu tenho amores? Quem sabe? Amigos? Acho que sim, mas eles têm a mim da mesma forma, ou sempre terei, antes, que cumprir todos os compromissos, pagar todas as contas e satisfazer minhas vontades, tantas vezes egoístas, tantas vezes inúteis? Quanto das minhas vontades foram inúteis e deixaram de lado amores e amigos?
Quinta-feira, 25 de dezembro. Embora a véspera tenha sido inesquecível e o teor alcoólico tenha passado um pouco da conta, lá estava eu, 8:00 horas, no portão, procurando o menino. Queria ver o brinquedo novo que ele deveria ter ganho de Natal, mas ele não estava.
Esperei um pouco, no Natal as crianças acordam e correm pra rua com os presentes novos, não custava esperar.
Fazia tempo que eu não sentia um Natal assim. Consegui ver as pessoas que passaram comigo, suas inseguranças e capacidades de errar e acertar, suas fraquezas e esperanças de alegria. Entendi pessoas que me irritaram um dia. Percebi que, tantas vezes, eu também devia tê-las irritado e me senti, quem sabe pela primeira vez, desde a infância, igual: anseios, necessidades e erros. Humanamente igual, como as crianças se sentem iguais e conseguem ser felizes.

***

Ele não veio aquela manhã, nem na outra. Perguntei pra toda a vizinhança por ele: ninguém sabia, nunca tinham visto, nem o zelador do prédio da frente, que conhecia todo mundo ali.
Por muitos dias acordei cedo, tentando encontrá-lo. Sumiu no dia de Natal e eu demorei a entender, mas, quando descobri seu paradeiro, agradeci a Deus, comovido, a singeleza com que atendeu minha prece, a prece que até tinha esquecido.
Eu não ia mais vê-lo, ali fora, na rua, ele tinha voltado à sua terra de origem. Tinha voltado pra dentro de mim... e, de dentro de mim, me apontava um caminho de paz.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

um domingo qualquer em florianópolis


quem pensa que floripa é só praia, tá se enganando se não conhece o Ribeirão da Ilha. Num desses domingos aí fomos lá comprar ostras (R$ 4,00 a dúzia, e grandes), mas como eu sempre carrego um equipamento de pesca de emergência...





(2 canhanhas, 6 cocorocas, 1 escrivão ou carapicuiba... pesca rápida)

perto do meio dia e com ostras e canhanhas no cesto, voltamos para casa. A idéia era fazer hora para o jogo do ano mengão campeão, fomos para cozinha fazer os frutos da colheita do mar:


PEIXE FRITO


OSTRAS AO BAFO E GRATINADAS (receita exclusiva)


RISOTO DE CAMARÃO COM ALHO PORÓ


e a prova:



ah, não tem foto dos filezinhos de peixe (sem essa de fritar o peixe inteiro, filé fica bem mais saboroso, mesmo se não for grande) porque comemos de apiritivo.

bebemos um excelente Garibaldi Prosseco, que no Macro tá por R$ 17,00 a garrafa... e ainda deu tempo pra uma soneca antes do jogo.

Floripa é bem mais que praias, engarrafamentos e ruas esburacadas...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

professores... quem conhece ALGUÉM?

Continuando o assunto para manter a discussão. Andei lendo na web o que se anda escrevendo sobre o assunto e o que mais se comenta é sobre a demissão de doutores para serem substituídos por mestres ou especialistas, mais baratos.

Doutores e mestres são necessários para regularizar a instituição, depois são substituídos em escala decrescente. Porém, o problema vai bem mais longe, sabemos disso, embora isso seja um espelho da verdade sobre o caráter de quem está no comando das instituições privadas.

São muitos aspectos a serem abordados, desde o medo dos professores de alardearem o assunto enquanto estão nos seus cargos (é claro que correm mais riscos de perderem seus empregos), até o ponto que mais me angustia, que é a qualidade dos profissionais que entram no mercado.

Não sou professor, nem mestre ou doutor. Sou apenas especialista e é por isso que não me sinto à altura de ir mais fundo nas questões intra classe. Porém, mesmo olhando de fora, é evidente que o problema é de uma dimensão assustadora, daquelas que nos fazem ter a sensação do "não adianta lutar, não vamos conseguir nada". Mas algum caminho deve existir, no entanto, creio que somente publicar artigos em blogs seja o mesmo que se apiedar do professor acuado e humilhado pelo sistema.

Tem que existir alguma maneira de ir mais longe e o que mais me ocorre é sensibilizar a mídia de maior alcance nacional. Se eu estiver enganado, por favor, me corrijam, mas, caso concordem comigo, partindo daqui deste desinteressado blog literário, peço a quem possa interessar, que pergunte a um amigo, se não tem um primo do primo do cunhado do amigo, que conheça algum repórter, algum jornalista, alguém, que possa ampliar a ressonância do assunto.

Creio que seria interessante situarmos o assunto em tópicos de importância, e todos podem interferir ou informar tópicos de importância maior ainda no assunto. Do meu ponto de vista particular, avalio esses dois:

1- que profissional as escolas superiores privadas estão colocando no mercado, levando-se em conta que o professor está cerceado no seu mister de ensinar?

2- qual o principal ponto da política de educação no Brasil deve ser focado para uma eventual modificação, visando diminuir o poder dos donos das escolas superiores privadas, que só têm interesses monetários?

Caros leitores do blog, o assunto é de total urgência e gravidade. Precisamos sensibilizar alguém. Por favor, quem conhece o alguém?

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

os professores prisioneiros

estou postando esse assunto como quem coloca uma massa de pão para crescer. Ainda não é o produto final. Minha esposa é professora numa faculdade particular de odontologia e recebeu um pedido de revisão de prova e, conversando sobre o assunto, fiquei mais uma vez abismado. Tem aluno gravando conversas com os professores, buscando uma brecha para processos. Tá muito difícil um professor reprovar um aluno de curso particular (corre até o risco de ser processado ou de perder o emprego). Por mais fraco que o aluno seja (imaginem-se como pacientes de um aluno fraco, um dia, momentos antes de uma cirurgia, matéria que ele conseguiu passar através de pressão permitida por lei), ele vai seguir adiante no seu currículo escolar, sem repetições e virar um "profissional". Tem se falado sobre o perigo que os professores da rede pública do ensino fundamental e médio têm corrido (alguns andaram apanhando, ou sofrendo ameaças de morte), mas é preciso falar, também, sobre o perigo que nós vamos correr com esses profissionais filhinhos de papais (com óbvias excessões, é claro), entrando no mercado sem nunca ter ouvido um não, ou mesmo uma recriminação por não estudarem o suficiente. Volto ao assunto com calma, mas já vou deixando a idéia vagando no ar e pedindo aos comentaristas habituais suas opiniões.