terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O ÚLTIMO ABRAÇO DO TEMPO


e quando o tempo me der

seu último abraço
e eu sentir seus braços frios me conduzindo os passos
vou lembrar do primeiro vento
que varre as folhas secas do outono
e deixarei que ele leve
solidões e lágrimas minhas
antes que a doce morte me beije a face
e as solidões e lágrimas umedeçam seu beijo

quero apenas lembrar da ternura de alguns abraços
e do riso distraído do meu filho
e das mãos que se soltaram das minhas, tantas
suaves como uma manhã que chega
com brisas cheirando terra e mato, e amor...
e foram, na estrada onde eu não podia andar...
e vou buscar, com alguma alucinação poética
mas com infalível calma
nos dias que rapidamente ficaram distantes
os recados, os bilhetes, as pequenas coisas do gostar
muitas fotos e acasos, tantos acasos
que derramaram estrelas distraídas em meu caminho
e direi a cada nome de mulher que vi partir nesta estrada
que a amei como nenhum homem amaria
amei como um poeta em desalinho
por minutos ou na eternidade das horas
e a todas pedirei que não me esqueçam
quando a tarde encostar no ombro da noite seu cansaço
que lembrem de mim que amei o dia e a noite
o vento e a chuva que duplicava cidades nas ruas
e seus beijos e seus sutis esquecimentos
e suas lágrimas... que me perdoem...
e vou partir, abrir no peito a porta do encantamento
e deixar que dele fujam os sonhos que não terminaram
ficaram pela metade
as vontades derramadas
as tristezas que escondi por serem só minhas
as estrelas que brilham no peito dos poetas
que nada valem
mas que me levarão em seu rastro de alegria
colorindo a morte com delicados tons de ironia
e me fazendo eterno
como tanto quis nos meus amores
sem nunca ter conseguido...

4 comentários:

Anônimo disse...

Mauro! Fui em sua casa em um aniversário da Denise..Quando comecei a ler o "Eu queria ser Bezerra de Menezes" achei o nome conhecido..e quando li sobre o autor no fim do livro tive a certeza que era você mesmo. Meu nome é Fernando e fiquei super feliz que você é um escritor..me lembro que quando te conheci você estava escrevendo ou tinha acabado o livro Alor. Parabéns e psicografe mais livros para nós...

mauro camargo disse...

Olá Fernando... que legal!!! Vc é o Fernando de Minas?
to batalhando, tem alguns livros por aí circulando, e mesmo o Alor foi republicado...
grande abraço

Anônimo disse...

Isso, de Belo Horizonte. Alor eu li, pois você me deu uma cópia em papel. Faz muito tempo pois seu filho não devia ter 12 anos e agora tem o dobro. Também estou no meio espírita a muito tempo e adorei o seu livro e saber mais sobre o Bezerra.

mauro camargo disse...

o tempo passa... creio que quando vc esteve em Penha o Nieje tinha perto de 8 anos, e semana passada ele fez 25...
eu tenho também, por esta editora, Paris, setembro de 1793 e O Magneto... no momento estou escrevendo um romance sobre os Cátaros... Mas ainda sou dentista, o que atrapalha um pouco no ritmo. Grande abraço