segunda-feira, 15 de abril de 2013

O Brasil que queremos...




Professor Gouveia tem quase 60 anos de idade e aproximadamente 40 anos de professor de história. Ainda não quer aposentar.  É respeitado, dedicado e vamos encontrá-lo hoje entrando na sala para a primeira aula do ano letivo. Alunos com cerca de 15 a 16 anos, a maioria.
- Bom-dia, alunos! Oh! Que bom que já temos a sala cheia, no primeiro dia! Ah, sim... podem desligar os monitores, ou minimizem a tela. Antes de falarmos sobre história, preciso saber um pouco sobre vocês... por isso vou pedir que me digam, um a um, o nome e uma palavra, uma palavra apenas, que ajude a defini-los como pessoa. O que vocês acharem melhor... está bem? Então vamos começar aqui, pela minha direita...
- ...é...é...bem...
- Ora, não se encabule, todos vão ter que falar mesmo, comece pelo seu nome.
- Bem, meu nome é Orlando, tenho 16 anos... hum... e sou gay.
- Ótimo, mas vamos fazer assim, não precisam dizer a idade, isso não faz muita diferença para mim. Então, vamos em frente...
- Meu nome é Rita... sou louca por rock...
- Isso aí... o seguinte.
- Pedro... torço pro Flamengo.
- Flamengo? Ichi, menino... logo o Flamengo? Mas tudo bem, é um direito seu... o seguinte...
- Camila... sou sapa.
- Sapa? Huumm...
- Algum problema professor?
- Eu não gosto muito deste termo, “sapa”. Não sei, nos meus ouvidos soa mal.
- Lésbica, então?
- Sim, é mais correto, mas também não gosto muito... e homossexual é muito longo... acho que no fundo prefiro gay, tanto para homens, quanto para mulheres... é curto, fácil de falar, e soa bem... pode ser? Ótimo... o próximo.
- João Carlos... espírita.
- De família espírita ou é convicção sua?
- Os dois, professor.
- Ótimo... o seguinte.
- Guto... Flamengo...
- Caramba! Outro? Já vi que esse ano vai ser complicado. Vamos em frente...
- Sandra... evangélica.
- Certo... de que igreja?
- Universal, professor.
- Ok... o próximo.
- Davi... gay...
- Ei... mas eu conheço você... você não estava namorando uma menina no final do ano passado?
- Sim, estava, a Lucinha... gosto de meninos e meninas...
- Então você não é gay... é bissexual...
- Ah! Professor, também não gosto deste termo.
- Tem razão, também não gosto. Mas gay não é o mais certo para o seu caso. Fica só bi... a contração é mais simpática. Pode ser? A seguinte...
- Maria... minha vida é o vôlei.
- Ok... mas não pense em só jogar e não estudar... o seguinte.
- Abdala... muçulmano.
- Olha! Que bom, temos uma classe eclética esse ano! Temos algum judeu também? Dois... seu nome?
- José.
- E o seu?
- Davi.
- Davi... então temos dois Davis... vou ter que aprender os sobrenomes. Quer me falar alguma coisa, José?
- Também sou do Flamengo.
- Ehhh... olha aqui, na minha idade não cai bem falar palavrões... então vamos em frente... Ei, você é muito parecida com o Abdala?
- Sarah... sou irmã dele.
- Ótimo, e o que mais?
- Mais?
- Sim... conte-me algo seu.
- Bem... sou tímida.
- Está bem... deu pra perceber pela cor do seu rosto, por isso vou deixar você quieta... e você, fale de você...
- Rubens... étero.
- Huumm... ok... e você?
- Diego... sou negro...
- Negro? Eu sei que você é negro, basta olhar... conte-me algo relevante, ou que o defina.
- Bem... sou baterista de uma banda.
- Ahhhh... muito bom... o que vocês tocam?
- Reggae...
- Ótimo... e você?
- Júlia... católica.
- Ok... você?
- Adriano... diabético.
- Que tipo?
- Tipo 1, professor?
- E carrega seu kit com insulina e alguma coisa doce?
- Sim, aqui na mochila.
- Muito bem... e você?
- Rodrigo... Beta... Paula... Jonas... João... Carlos... Antônio...
- Muito bem, agora que já nos conhecemos um pouco, vamos montar os grupos de pesquisa. Gosto de grupos de 4 pessoas, por isso vou escolher por sorteio, vamos lá, coloquem o nome num pedaço pequeno de papel e tragam até minha mesa...

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom!
Não! Muito bom, não!
Muito bom, mesmo!
Eu andava meio desaparecido do "à sombra...", mas esse texto transformou esse passante num assíduo. Valeu!

A propósito:
Romacof... meio estranho.

mauro camargo disse...

caro estranho Romacof...

vc anda meio desaparecido e eu também... acho que o face está nos sugando, ou a nossa crítica anda meio cansada e, portando, tendendo a ficar calada. Ando distante dos blogs em geral, que sempre me deram tanta boa leitura...