terça-feira, 20 de agosto de 2013

estação







É como se uma neblina cobrisse aquela estação com um manto de carinho e eu lembrava que saudade é uma exclusividade nossa. Outros chamam de nostalgia ou palavras próximas, que não conseguem expressar este sentimento que nos desalinha, mas também nos lembra que tanto amamos. É como uma manhã tépida, com um sol de calor brando furando as nuvens baixas e matizando a lembrança de tons sutis, de cores leves, de amores breves, por tudo que quis ser e nem sempre consegui. Abro meu peito e deixo partir os apegos. Ah! Porque não os libertei antes? Abro meu peito e deixo sair de mim qualquer rancor que tenha ficado. Quero agora apenas lembrar das coisas ternas; da risada frouxa do meu filho, seu abraço e as lágrimas boas de quando ele ia porque tinha que ir. Dos amigos que plantaram em meu caminho sementes de afeto, e mesmo daqueles que erraram nas sementes, quero apenas saber que me ajudaram, somente. E de você, minha querida, sombra fresca para o meu pensamento escaldante, quero saber só das vezes que veio. Sei que fui eu que a fiz partir, algumas vezes, que sempre pareceram tantas, e sei que voltou somente por você, porque eu, o que poderia ter que valesse mesmo a pena, senão esta mania de amar... e amar? Hoje sei que o tempo de amar devagar e urgentemente foi pra sempre. E agora, aqui nesta imensa estação do tempo, esperando um novo amanhecer em meu destino, parece que consigo escutar seu coração batendo, parece que escuto seu respirar entrecortado, parece que sinto seu sentimento me abraçando. Ah! Minha amada! Como queria roubar para mim qualquer tristeza sua! Mas não posso, porque também aprendi que as nossas dores são tão particulares, quanto necessárias, e não passamos por nada que não seja justo. Espero apenas que esta tristeza delatada a faça crescer e não perdure tanto, para que você possa se desvencilhar de mim a tempo da alegria ter tempo para você. E parece que sinto seu perfume, mas é a barba macia do meu filho que me roça, como na canção que eu lhe cantava pequenino: “sentir-lhe a barba me roçar, num derradeiro beijo seu”. Então o trem aparece na estação. Como alguém pode chamar isso de morte, se existe tanta vida na saudade? Enfim, clareou o dia, se foram as nuvens. É hora de partir.

Nenhum comentário: