domingo, 31 de maio de 2015

a poesia cronicada de Ana Valéria


Ana Valéria sempre foi poeta. A poesia está nela arraigada naturalmente e toda gente poeta faz dos seus textos uma poesia espalhada. Não há como esconder e nem tem motivo para esconder este arraigamento. Esconder a poesia dela seria como cobrir alguma coisa com seda e não querer que os contornos apareçam. No livro Regando os jardins do senhor e outras crônicas foi o que ela fez: colocou uma larga peça de fina seda sobre sua arraigada poesia. E como ficou lindo isso!

um exemplo, para que me entendam melhor, tirado de uma das crônicas

(,,,)nada há que vulnere, infantilize, desequilibre mais um ser humano (até os pensantes!) que sentir ciúme. Terrível, acomete e compromete todos os sentidos, pois que atinge e aniquila o cerne: a razão. Cruel, carrasco, desumaniza. Ríspido, penetrante, invade e descompõe, ultraja, escarnece.

esta escrito assim em seu livro, mas pode ser lido assim:

(,,,)nada há que vulnere
infantilize
desequilibre mais um ser humano
(até os pensantes!)
que sentir ciúme
terrível
acomete 
compromete todos os sentidos
atinge e aniquila o cerne
a razão
cruel carrasco 
desumaniza
ríspido
penetrante
invade e descompõe
ultraja
escarnece(...)

Bravo, Ana Valéria! Estou aqui embevecido (mais uma vez!) com sua fina habilidade de formatar emoções com as palavras. Estou aqui me deliciando com seu texto, tão bem escrito que me invade uma inveja daquelas que apaixona e faz ler mais e mais. Inveja de escritor para escritor não é fácil! Eu, ficcionista, que tanta dificuldade tenho em buscar as palavras para vestir as muitas ideias que me sobram, lendo seu texto fico extasiado. 

Estou fazendo esta postagem por ansiedade, porque nem li o livro todo ainda, mas bateu já uma vontade de espalhar sua arte, seu talento, para que mais gente se extasie e se embriague contigo, já que arte e talento facilitam tanto se viver com mais alegria. 

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