terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O ÚLTIMO ABRAÇO DO TEMPO


e quando o tempo me der

seu último abraço
e eu sentir seus braços frios me conduzindo os passos
vou lembrar do primeiro vento
que varre as folhas secas do outono
e deixarei que ele leve
solidões e lágrimas minhas
antes que a doce morte me beije a face
e as solidões e lágrimas umedeçam seu beijo

quero apenas lembrar da ternura de alguns abraços
e do riso distraído do meu filho
e das mãos que se soltaram das minhas, tantas
suaves como uma manhã que chega
com brisas cheirando terra e mato, e amor...
e foram, na estrada onde eu não podia andar...
e vou buscar, com alguma alucinação poética
mas com infalível calma
nos dias que rapidamente ficaram distantes
os recados, os bilhetes, as pequenas coisas do gostar
muitas fotos e acasos, tantos acasos
que derramaram estrelas distraídas em meu caminho
e direi a cada nome de mulher que vi partir nesta estrada
que a amei como nenhum homem amaria
amei como um poeta em desalinho
por minutos ou na eternidade das horas
e a todas pedirei que não me esqueçam
quando a tarde encostar no ombro da noite seu cansaço
que lembrem de mim que amei o dia e a noite
o vento e a chuva que duplicava cidades nas ruas
e seus beijos e seus sutis esquecimentos
e suas lágrimas... que me perdoem...
e vou partir, abrir no peito a porta do encantamento
e deixar que dele fujam os sonhos que não terminaram
ficaram pela metade
as vontades derramadas
as tristezas que escondi por serem só minhas
as estrelas que brilham no peito dos poetas
que nada valem
mas que me levarão em seu rastro de alegria
colorindo a morte com delicados tons de ironia
e me fazendo eterno
como tanto quis nos meus amores
sem nunca ter conseguido...

O que eu vi em São Paulo...

    

   

  

   

ninguém se olha... ninguém se vê... ninguém se encontra, consigo mesmo...
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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

resfriamento de frutas


Não são lindos?
São, realmente, mas, quem me garante que são saborosos? Quem já não comprou frutas assim (e pagou caro) e depois, ao chegar em casa, teve a impressão que comia uma massa básica vegetal, que podia ser feita para qualquer fruta? Quem não teve a impressão que pegou enganado uma fruta ornamental?

O resfriamento de frutas é cada vez mais comum e são louváveis as pesquisas na intenção de melhorar o tempo de duração de um alimento, tão rico quanto perecível. Porém, ah! porém... as técnicas estão longe de satisfazerem nossas papilas gustativas. Por enquanto, só satisfazem o bolso de quem produz e/ou comercializa. Fruta fresca tá cada vez mais difícil, e não quero nem lembrar aqui do tempo que a gente colhia peras, maçãs, goiabas, em terrenos baldios... é, não estranhem, onde eu morava era assim, mas acho que nem lá ainda é... mas o que importa mesmo é que estamos comprando gato por lebre (ou pêssego por isopor) descaradamente, e parece que quanto maior e mais elegante o mercado, mais fácil de cairmos nesta armadilha. Há tanta preocupação da ANVISA sobre o que vai nos rótulos dos alimentos, principalmente sobre o prazo de validade, o que é justo e necessário, no entanto, em relação à massa básica vegetal não se diz nada. Pelo menos eu, por aqui, não tenho ouvido ou lido nada a respeito. 

Creio eu que o mínimo que poderia ser feito era se exigir que o comerciante final informasse, com uma singela tabuleta sobre a fruta, que ela não é fresca. 

FRUTA RESFRIADA - não, isso não, muita gente ia pensar que a fruta está doente...
FRUTA ARMAZENADA EM CÂMARA DE RESFRIAMENTO - ou algo assim.

Daí já se pode imaginar que a compra iria diminuir; então se pode pensar que o preço teria que cair; se o preço caísse, talvez o produtor pensasse em investir mais em tecnologia, para que o sabor não se altere tanto... sabe lá... O que não podemos é continuar pagando caro, comendo frutas sem gosto, bonitinhas, mas ordinárias, e, além de tudo, cheias de agrotóxicos.
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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013



já dei de mim tudo que tinha
minha amada
tanto
e tanto que não há mais nada
que lhe cause algum espanto
já me espalhei no caminho 
com o pó da sua estrada
e cada madrugada guardou meu pranto
você sabe
meu silêncio
silêncio de rio de água parada
ou que desce pelo destino bem devagarzinho
silêncio de canto que não mais se canta
porque nada mais encanta
silêncio de mata fechada
do tempo antes do temporal...
e agora que nada mais me resta
de novo ou diferente do que foi sempre
me apavora não ver mais o riso dos seus olhos
de repente
e não a sentir mais carente do meu beijo
vendaval que não arrasa, nem refresca
não ser mais que o desejo permanente
que sua alma voe loucamente
e volte deitar seus cansaços no meu peito
eternamente
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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2013


o tempo passa
nos passamos pelo tempo
a todos que me acompanharam desde sempre
aos que me acompanham agora
e aos que, talvez, 
ainda caminharão comigo
obrigado pela paciência
e vamos todos juntos
para mais um ano de luta
e crescimento
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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

aumentar o preço do combustível!


é curiosa a campanha da imprensa mostrando o deficit da Petrobrás e a necessidade urgente de elevar o preço do combustível. Mais uma vez o povo (que vota) sendo engrupido. Não vejo nenhum meio de comunicação mostrando que cerca de 55% do preço vai para a união, na infatigável saga governamental de estropiar o cidadão. Curiosamente a imprensa, principalmente a mais vista, a televisão, e a Globo, defensora por conchavos econômicos de qualquer governo que ela elege, somente aponta que é preciso subir os preços, tentando e conseguindo convencer o povo desta necessidade. Quando o aumento chegar, está feito, e que dia começa a copa das confederações mesmo?. Não há referências aos maus investimentos da Petrobrás; às obras superfaturadas em que a estatal se envolveu nos últimos anos (o próprio governo obstruiu as investigações pelo TCU). Ninguém mostra o motivo do álcool ter dobrado de preço nos últimos 3 anos (bem quando boa parte da frota nacional é flex). O álcool combustível deveria ser tratado como relíquia diante da situação ecológica do planeta, mas, o que temos visto ser feito? Ninguém fala do incrível aumento de arrecadação com cada décimo de centavo que subir o preço do combustível, devido ao incentivo na venda de veículos dos últimos anos. O governo justificou o incentivo às montadoras para aumentar o número de empregos. Que piada! Quer aumentar o número de empregos, dê incentivos á construção civil. Onde pode ter mais vagas? O que o brasileiro precisa mais: habitação ou carrinho na garagem? Por que não se incentiva a construção de rodovias, ferrovias e hidrovias, que geraria um número infinitamente maior de empregos. A resposta é tão simples que chega ser burra: carro e combustível aumentam a arrecadação e políticos precisam do nosso dinheiro para manterem seus status de neo nobreza. Os Luis XVI e a Marias Antonietas contemporâneos estão esperando que o povo coma brioches, já que a guilhotina moral da nossa justiça está emperrada pela corrupção e pelo corporativismo... e todos vão continuar votando nestes palhaços espertos. 
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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Estação Natal


a cada ano que passa, nesta noite de presentes de natal, eu noto cada vez mais ausentes, e não tem como não me sentir na estação da vida, lembrando dos que foram, tentando entender os que chegam... 

FELIZ NATAL a todos os que por aqui passam e, se possível, com mais abraços e menos presentes.
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domingo, 16 de dezembro de 2012

Corínthians! Entre pêsames e glórias



             Parabéns ao Corinthians! Parabéns, principalmente, aos corinthianos, pela paciência!
Nunca se deve negar o mérito de um título de envergadura, porém, como amante e ex intenso praticante, boleiro viciado por tanto tempo, só posso lamentar por um ano em que o jogo anti-jogo prevaleceu de forma tão contundente. Sei bem que os xiitas da bola, que só a veem com paixão, vão cair de pau, mas este ano foi sofrível. Os quatro principais campeonatos em que os times brasileiros participaram foram vencidos pelo inexpugnável  “futebol de resultado”.

Vejamos:
1- Libertadores – Corinthians: fazia um “golzinho” e se fechava atrás;
      2-  Brasileiro – Fluminense: fazia um golzinho e se fechava atrás;
            3- Copa do Brasil – Palmeiras: fazia um golzinho e se fechava atrás;
      4-   Mundial de Clubes: Corinthians: fazia um golzinho e se fechava atrás.

             O exemplo do Palmeiras talvez seja o mais contundente. Jogou o não jogo de maneira tão aviltante que, num campeonato de longa duração, onde não se vive sem o talento da construção, foi rebaixado.
            Pra quem não entende, golzinho é gol, tem o mesmo valor e decide um jogo. Na gíria do boleiro vem no diminutivo porque representa talvez a chance única durante o jogo. Vimos isso com o Fluminense no campeonato Brasileiro. Se o Fluminense levasse 20% dos gols incríveis que os adversários tiveram a chance de fazer e perderam, não seria campeão. Isso é apostar na sorte.
           Podemos dizer que o Corinthians foi o time que melhor se estruturou para jogar o não jogar, principalmente porque tem bons jogadores. Montou um esquema bem consciente para que o golzinho acontecesse, e se deu bem, pelo menos em resultados. Vejam que o melhor jogador do mundial foi o Cássio, goleiro; nada mais sintomático. O próprio Chelsea foi campeão em cima do Barcelona, pela liga européia, jogando o anti-jogo. Quantos times brasileiros sofrem com los hermanos, que quando jogam aqui na terrinha só sabem fazer isso?
           É de se lamentar levar uma máxima tão forte da vida para dentro dos gramados: é muito mais fácil destruir do que construir. Eu estava feliz por ver o Barcelona ir, aos poucos, vencendo, dobrando este paradigma, assim como o Santos, aqui no Brasil. Infelizmente estes resultados vão fazer que engulamos a seco a falta de talento construtivo por mais um longo tempo. Talvez este talento não mais apareça, ou só apareça nos pés dos gênios da bola, como Messi e Neymar, enquanto tantos outros bons jogadores vão sumindo diante do esquema contundente da destruição.
        E ainda temos que pensar que o Felipão é mestre deste enredo, e que o seu assistente técnico, Parreira, foi professor dele.

Parabéns aos vencedores! Pêsames aos futebol, na sua expressão mais plena.
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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O que eu penso sobre política...



faz muito tempo que não voto e não por omissão. Considero o meu não voto uma maneira de protesto e alardeio o quanto posso. Digo sempre que o político não nos dá o que precisamos, muito pelo contrário, então porque vou dar a ele a única, mas única mesmo, coisa que tenho que lhe interessa? Meu voto está guardado como uma relíquia bem preciosa, esperando alguma alma lúcida e honesta se aventurar neste inferno dantesco do meio político nacional. 

Será que essa alma apareceu? Não sei, mas as ideias dele são muito parecidas com o que eu penso sobre política. Se ele for em frente e se manter na linha, acho que meu voto sai da caixinha.

o texto abaixo é Ctrl C Control V da Isto é independente.

vamos torcer para que não se perca...



JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE

Um homem ficha limpa
Aos 38 anos, o economista José Antônio Reguffe (PDT-DF) foi eleito deputado federal com a maior votação proporcional do País – 18,95% dos votos válidos (266.465 mil) no Distrito Federal. Caiu no gosto do eleitorado graças às posturas éticas adotadas como deputado distrital. Seus futuros colegas na Câmara dos Deputados que se preparem. Na Câmara Legislativa de Brasília, o político desagradou aos próprios pares ao abrir mão dos salários extras, de 14 dos 23 assessores e da verba indenizatória, economizando cerca de R$ 3 milhões em quatro anos. A partir de 2011, Reguffe pretende repetir a dose, mesmo ciente de que seu exemplo saneador vai contrariar a maioria dos 513 deputados federais. Promete não usar um único centavo da cota de passagens, dispensar o 14º e 15º salários, o auxílio-moradia e reduzir de R$ 13 mil para R$ 10 mil a cota de gabinete. “O mau político vai me odiar. Eu sei que é difícil trabalhar num lugar onde a maioria o odeia. Quero provar que é possível exercer o mandato parlamentar desperdiçando menos dinheiro dos cofres públicos”, disse em entrevista à ISTOÉ.

Istoé -O sr. esperava ter quase 270 mil votos?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
Nem no meu melhor sonho eu poderia imaginar isso. O resultado foi completamente inesperado. Foi um reconhecimento ao mandato que fiz como deputado distrital. Cumpri todos os meus compromissos de campanha. Enfrentei a maioria e cheguei a votar sozinho na Câmara Legislativa.

Istoé - O que foi diferente na sua campanha para gerar uma votação recorde?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
A campanha foi muito simples, gastei apenas R$ 143,8 mil. Não teve nenhuma pessoa remunerada, não teve um comitê, carro de som, nenhum centavo de empresários. Posso dizer isso alto e bom som. Foi uma campanha idealista, da forma que acho que deveria ser a política. Perfeito ninguém é. Mas honesta toda pessoa de bem tem a obrigação de ser. Não existe meio-termo nisso. Enfrentei uma campanha muito desigual. Só me elegi pelo trabalho como deputado distrital.

Istoé - O que o sr. fez como deputado distrital?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
Abri mão dos salários extras que os deputados recebem, reduzi minha verba de gabinete, eliminei 14 vagas de assessores de gabinete. Por mês, consegui economizar mais de R$ 53 mil aos cofres públicos, um dinheiro que deveria estar na educação, na saúde e na segurança pública. Com as outras economias, que incluem verba indenizatória e cota postal, ao final de quatro anos, a economia foi de R$ 3 milhões. Se todos os 24 deputados distritais fizessem o mesmo, teríamos economia de R$ 72 milhões.

Istoé - O sr. pretende abrir mão de todos os benefícios também na Câmara Federal?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
Na campanha, assumi alguns compromissos de redução de gastos. Na Câmara, vou abrir mão dos salários extras de deputados, como o 14º e o 15º, que a população não recebe e não faz sentido um representante dessa população receber. Não vou usar um único centavo da cota de passagens aéreas, porque sou um deputado do DF. Não vou usar um único centavo do auxílio-moradia. É um absurdo um deputado federal de Brasília ter direito ao auxílio-moradia. Vou reduzir a cota interna do gabinete, o “cotão”, e não vou gastar mais de R$ 10 mil por mês.

Istoé - Com essa atitude na Câmara Legislativa, o sr. recebeu uma pressão dos colegas. Não teme sofrer as mesmas pressões na Câmara Federal?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
É verdade. Eu fui investigado, pressionado. Mas não quero ser mais realista que o rei, sou um ser humano como qualquer outro, erro, falho, mas quero cumprir os compromissos com as pessoas que votaram em mim. Uma pessoa que se propõe a ser representante da população tem que cumprir sua palavra. O mau político vai me odiar. Eu sei que é difícil trabalhar num lugar onde a maioria o odeia. Quero provar que é possível exercer o mandato parlamentar gastando bem menos e desperdiçando menos dinheiro dos cofres públicos.

Istoé - Quando houve a crise do mensalão do DEM em Brasília o sr. realmente pensou em abandonar a política?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
Houve alguns momentos em meu mandato que pensei em não ser candidato a nada, por uma decepção muito grande com a classe política. E uma decepção quanto à forma como a sociedade enxerga a política, da sociedade achar que todo político é corrupto.
Istoé - O sr. já tem projetos para o seu mandato? A reforma política é um deles?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
Sim. Vou apresentar uma proposta de reforma política em cinco pontos. A população não se considera representada pela classe política e é preciso modificar isso. O primeiro ponto é o fim da reeleição para cargos majoritários, como prefeito e governador, e o limite de uma única reeleição para cargos legislativos. Tem gente que é deputado há 40 anos. Mas a política deve ser um serviço e não uma profissão.

Istoé - E os outros quatros pontos?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
Vou propor o fim do voto obrigatório. A eleição do Tiririca, em São Paulo, é o resultado do que ocorre quando se obriga a população a votar. Ela vota em qualquer um. O terceiro ponto é o voto distrital. A quarta proposta é um sistema de revogabilidade de mandato, no qual o eleitor poderia pedir o mandato do candidato eleito, caso ele não cumpra seus compromissos. Por fim, defendo o financiamento público de campanha.

Istoé - Nos moldes do que tramita no Congresso?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
Não. Minha proposta é totalmente diferente. Se der dinheiro ao político, ficará pior do que está, porque vai ter gente virando candidato só para ganhar dinheiro. Na minha proposta, a Justiça Eleitoral faria uma licitação e a gráfica que ganhasse imprimiria o panfleto de todos os candidatos, padronizado e em igual quantidade para todos. A pessoa teria que ganhar no conteúdo. O TSE pagaria a gráfica. A produtora que ganhasse gravaria programas na tevê para todos os candidatos. A campanha ficaria mais chata, mas acabaria a promiscuidade entre público e privado.

Istoé - Como o sr. vê as propostas que aumentam o número de deputados e vereadores?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
É importante a existência de um Legislativo forte. Mas as casas legislativas no Brasil são muito gordas e deveriam ser bem mais enxutas. A Câmara não precisa de 513 deputados, bastariam 250.

Istoé - O mesmo vale para o Senado?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
Deveria ser como era antes, com apenas dois senadores por Estado. Assim sobrará mais dinheiro para a educação, a saúde, a segurança pública e os serviços públicos essenciais. É muito difícil aprovar essa mudança, mas não é por isso que deixarei de lutar por minhas ideias.

Istoé - Como será seu comportamento diante das propostas do Executivo?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
Os parlamentares que votam sempre sim ou sempre não, porque são da base do governo ou da oposição, não têm a menor consciência de suas responsabilidades. Eu tenho. Vou agir da mesma forma como agi na Câmara Legislativa, vou analisar o mérito do projeto e algumas vezes votar contra o meu partido. Ideias a gente debate ao extremo, mas a pessoa de bem não pode transigir com princípios. Ceder um milímetro em matéria de princípio é o primeiro passo para ceder um quilômetro.

Istoé - O sr. não teme se tornar um personagem folclórico ao apresentar propostas que dificilmente terão apoio dos outros 512 deputados?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
A primeira tentativa é de folclorizar quem enfrenta o sistema, quem luta pelo que pensa e quer sair dessa prática da política convencional. Eu faço a minha parte. Não assumi o compromisso com nenhum eleitor meu de que vou conseguir aprovar os meus projetos. Mas assumi o compromisso com todos os meus eleitores de que vou fazer a minha parte e disso eu não vou arredar um milímetro. As pessoas fazem uma série de confusões na política. Uma delas é acreditar que governabilidade é sinônimo de fisiologismo. É trocar votos por cargos ou por liberação de emendas. É claro que existem outros 512. Se eu for minoria, fui, mas vou votar como acho que é certo.

Istoé - O PDT hoje tem o Ministério do Trabalho na mão, o sr. concorda com isso? O sr. acha que os partidos devem ter indicações no governo?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
Como cidadão eu gostaria de ver uma nova forma de fazer política, um novo conceito de administração pública. O partido deveria ter uma atitude de independência. Eu respeito a decisão da maioria. Mas a contribuição à sociedade seria maior se fosse independente, elogiando o que é correto e criticando o que é errado.

Istoé - No primeiro turno, o sr. foi contra o PDT e votou na Marina Silva. E no segundo turno? Vai liberar seus eleitores?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
Ainda tenho que ouvi-los. Mas, a princípio, sinto que estão muito divididos. Tive votos em todas as cidades do Distrito Federal, nos mais diferentes perfis de escolaridade e renda. Onde eu tive mais votos foi na classe média.
Istoé - Quais são seus outros projetos?

JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
Quero criar a disciplina cidadania nas escolas. Tão importante quanto ensinar matemática e português é ensinar a criança a ser cidadã. O aluno precisa aprender os princípios básicos da Constituição Federal. Uma população que não conhece seus direitos não tem como exigi-los. As pessoas não sabem qual é a função de um deputado. Isso é muito grave. A gente constrói um novo país investindo na educação.

Istoé - O sr. é a favor da Lei dos Fichas Sujas já nesta eleição?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
Sou. Eu sou favorável a tudo que for para moralizar a atividade política.

Istoé - Mesmo contrariando a Constituição? Dentro do STF há quem diga que a lei não deveria retroagir.
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
A Constituição é que deveria, há muito tempo, vetar pessoas sem estatura moral para representar a sociedade.(o negrito é por conta do sombrapensante).

Istoé - A Câmara e o Senado têm um orçamento que ultrapassa R$ 5 bilhões. O sr. tem algum projeto para reduzir esse valor?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
Tudo aquilo que eu fizer também vou apresentar como proposta. Quero, pelo menos, provocar a discussão.

Istoé - O País inteiro ficou impressionado com a votação da mulher do Roriz, que conseguiu um terço dos votos. Há quem a chame até de mulher laranja. Como o sr. viu o resultado em Brasília?
JOSÉ ANTÔNIO REGUFFE -
Estou apoiando o Agnelo. Mas o voto do eleitor a gente tem que respeitar, mesmo quando não gosta desse voto. Eu respeito.
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