No
imenso tempo decorrido até o momento em que começo a escrever este texto, o Ser
se construiu e, obviamente, continua se construindo. Tudo faz parte desta
construção. Usando a ideia darwiniana, mesmo por ser mais aceita, não é difícil
entender que, neste tempo decorrido, desenvolvemos intensamente as aptidões
físicas, a intuição e o intelecto. Desenvolver o sentimento é um passo à frente
da jornada. Equilibrar estes elementos pode significar um estado de felicidade,
mas ainda é uma busca. A imensa disparidade humana, no presente, mostra o
quanto é difícil este equilíbrio, a começar pelas próprias aptidões físicas.
Sim, somos todos iguais. Temos todos os mesmos direitos e responsabilidades.
Porém, não tem como viver dentro de um claustro de ingenuidade e pensar que
todos vão se comportar da mesma maneira com o que têm nas mãos. Eu sei que
muita gente pode pensar, e afirmar, que as pessoas se comportam de maneira
diferente porque têm mais ou menos bens materiais, ou de condições propícias à felicidade.
Não acredito que seja assim, e a prática tem mostrado isso. Ainda somos
diferentes, embora sejamos iguais. No
balanço entre aptidões físicas, instinto, intelecto, sentimento e consciência
sobre as diferenças, reside a possibilidade do bem estar social coletivo.
O
que vimos na Bahia recentemente, com a multiplicação impressionante da
criminalidade quando a polícia não esteve nas ruas, mostra o quanto ainda o Ser
não se compromete com o sentimento, principalmente o de bondade. Mostra que
consegue se manter na linha por medo de ser castigado. Uma pena, mas é a
realidade.
O
que vemos no patamar do poder, político principalmente, e tão distante do
patamar que a população em geral vive, tem muita semelhança. O uso
particularizado do intelecto, sem o impulso natural do sentimento (principalmente
o da bondade) leva o Ser a práticas egoísticas em primazia. O fisiologismo, o
corporativismo, o domínio da construção e manipulação das leis, leva à
corrupção, à drenagem dos bens públicos para fins escusos, ao não investimento em
cidadania. Não há lei que os alcance e, como humanos do mesmo padrão evolutivo,
se comprazem pelo fato de não serem punidos. Acabam sendo violentos, muito
violentos.
Os
pensadores de várias ideologias aplicam o intelecto em níveis elevados, e
formulam doutrinas espetaculares em torno do bem coletivo, embora, na maioria
das vezes, este coletivo não seja amplo. Porém, quando percebem que a teoria,
tão brilhantemente concebida, não se desenvolve na prática, porque os seres
humanos iguais são diferentes, forçam de baixo para cima a execução da ideia. Impõem-se
leis. Impõe-se comportamento. Se a massa populacional não aceita, corre-se o
risco de vários tipos de ditaduras, todas agressivas. Geralmente os pensadores
não chegam a cargos de poder. Acredito que, se chegassem, poderia ser atenuado
o mau uso de suas doutrinas. O que acontece na prática, é que os líderes que
usam das ideologias formuladas, não têm mais que ninguém o equilíbrio entre os
fatores evolutivos desenvolvidos: aptidão física, instinto, intelecto e
sentimento. No patamar humano, são iguais nas diferenças, e, por isso mesmo,
não sabem lidar com o poder. É histórico e facilmente detectado.
Chegará
um dia em que estabeleceremos o padrão de igualdade. Mas engana-se muito quem
pensa que a igualdade pode ser imposta de cima para baixo, ou mesmo de baixo
para cima. Igualdade não se impõe de maneira nenhuma. Igualdade não existe
enquanto os seres humanos não souberem respeitar profundamente as diferenças,
os tempos e dificuldades de cada um. Igualdade só existe quando aptidão física,
instinto, intelecto e sentimento estiverem equilibrados numa quantidade de
pessoas tamanha, que a conseqüência seja líderes no mesmo patamar evolutivo.
Não
estamos nesta situação? É evidente que não. Na verdade estamos longe, mas
também é evidente que estamos no caminho. Basta ver as conquistas na atenção
que se dá às diferenças de aptidão física no presente. Hoje temos jogos
paraolímpicos. A maioria dos países está se preocupando com as limitações
físicas nas ruas, no trabalho. Eu sei que é um pouco triste pensar que é uma
atuação incipiente da humanidade, preocupando-se com o primeiro fator evolutivo
da lista e deixando os outros ainda tão à deriva. Mas há que se reconhecer que
esta preocupação advém do desenvolvimento do sentimento. Então virão outras. E
outras.
E
existe um caminho para que este equilíbrio seja alcançado mais rapidamente?
Claro que existe. Precisamos pensar em coletividades mais avançadas no uso da
cidadania e na aplicação dos direitos humanos para entender. Não foi apenas o
desenvolvimento financeiro que levou alguns países a este avanço. Talvez o
próprio desenvolvimento financeiro tenha vindo depois de se conseguir cidadania
e equilíbrio de direitos. Quem veio realmente antes? E o que podemos copiar
destes países e tentar implantar na nossa terrinha, que é tão grande? Justiça.
O primeiro passo eficiente para o equilíbrio de uma nação é um código penal
enxuto, justo, facilmente aplicável. Porque mesmo o Ser destes países ainda
está no mesmo patamar evolutivo que o nosso, só que já aprendeu (e formou uma
massa crítica significativa) a se comportar dentro da lei.
Exemplo
prático: você pode andar de ônibus por Roma sem pagar passagem. Pode entrar em
um ponto e sair em outros, e não pagar, porém, se for apanhado, a multa é
altíssima. Se não pagar a multa, é processado. Se for processado, fica registrado
na carteira de trabalho. Pouquíssimas pessoas arriscam, porque, de repente, 3
ou 4 fiscais entram no ônibus e verificam as passagens. O mesmo acontece nos trens.
Simples, repetido, até se chegar na ordem, respeitando-se os direitos. Imagina se
isso for implantado no Brasil!
As
leis brasileiras são confusas. A justiça brasileira é cheia de brechas. A impunidade
é notória. Os processos são lentos e nem ladrão de galinha tá ficando preso
mais, porque não tem espaço nas cadeias. Países como a Holanda, por exemplo,
estão transformando prisões em espaços públicos, pela falta de presos, tamanha
é a conscientização popular em torno do cumprimento das leis.
A reforma
no código penal brasileiro é fundamental, para que também se possa fazer uma
reforma política coerente, em um segundo passo. E precisamos disso porque somos
como filhos, que quando são deixados muito à vontade pelos pais se tornam
infelizes e desajustados, porque não têm noção de limites, são inseguros e
frágeis. Qualquer psicólogo pode confirmar isso. Somos ainda dependentes de
controle, porque dentro do controle nos sentimos mais seguros e entendemos
melhor os limites até aonde podemos ir, dentro do antigo e repetido conceito
que diz que a minha liberdade vai até onde começa a liberdade do próximo.
Não
adianta pensar que mudar os nomes de um governo, ou mudar de partido, vai
significar alguma coisa segura no desenvolvimento do nosso país. Isso já
aconteceu sem mudanças significativas. Não temos massa crítica equilibrada nos
quatro fatores evolutivos que nos trouxeram até agora, para que possamos gerar
naturalmente líderes comprometidos com a felicidade geral. E eu digo geral
mesmo, não apenas do seu grupo ideológico.
Diante
de tudo isso, não tenho nenhuma dúvida de que a palavra chave para chegarmos ao
equilíbrio sócio econômico tão buscado, chama-se JUSTIÇA. Aptidão física,
instinto, intelecto e sentimento, regido por leis simples e inteligíveis é o
caminho mais curto para a estabilidade.
E o
que tem isso a ver com o título do texto: por amor ao Brasil?
Tudo.