terça-feira, 28 de setembro de 2021

Consciência

 

                                          O GRANDE CAMINHO                                      

           O espírito Lins de Vasconcelos, em um dos capítulos do livro O ESPÍRITO DA VERDADE, psicografia de Chico Xavier, faz um comentário bastante interessante a respeito da revolta de que algumas pessoas são tomadas contra Deus. Diz este irmão ser absurda qualquer tipo de revolta e é bastante feliz esta colocação. Deus não pune. Deus não seria expressão de perfeição se tomasse qualquer tipo de atitude punitiva.

            A idéia mais próxima que podemos fazer da Divindade é imaginá-la perfeita, criando uma máquina viva em que não precise fazer mais interferências. Ao que pode alcançar, no momento, nosso pensamento, foi assim que Deus projetou tudo que existe e não é necessário a Ele interferir incessantemente sobre nossos destinos, nos apontando tropeços, erros infindáveis e indicando punições aos nossos deslizes. Parece ser comum acordo da humanidade que somos centelhas Divinas, que Deus está em nós. Se Deus é perfeito, obviamente o nosso modelo também é a perfeição, ao menos é para ela que caminhamos. Se somos partes de Deus, fomos criados para o bem e como partes desta criação perfeita, num “momento” de profundo desprendimento da Divindade, fomos dotados também de livre arbítrio, ou seja, da condição de escolhermos nosso próprio caminho evolutivo, tendo sempre como parâmetro a perfeição a ser seguida.    

            E foi essa atitude sapiente que fez com que nós mesmos nos corrigíssemos no caminho da perfeição, sem que Deus tenha que estar intercedendo ou punindo, pois, em nos dar a liberdade sobre nossas atitudes, sabendo Ele que o nosso princípio é perfeito, qualquer atitude nossa que não fosse perfeita, viria contra a natureza deste princípio. E o que é este princípio? É a centelha Divina, que para ser entendida com maior facilidade, pode ser chamada de consciência. Não existe nada mais Divino em nós do que a nossa consciência. Ela é a matriz de onde se desenvolve nosso destino. Consciência limpa, tranqüila, equilibrada, com paz   =  evolução, crescimento. Consciência pesada, suja, desequilibrada  =   sofrimento, agonia, estagnação evolutiva.

            Todos nós sabemos o que é peso de consciência. Por mais horrível que seja uma determinada pessoa, capaz dos crimes mais atrozes, ela é vítima deste "bem" que ataca todo ser humano (exceto temporariamente em casos de psicopatologias). Como dissemos, a consciência é a matriz do nosso destino, nela reside todo nosso futuro e a impressão indelével do nosso passado. Por quê?  A princípio, apenas porque é Divina, porém se aprofundarmos nosso raciocínio, entraremos num caminho que nos levará a um mundo maravilhoso, que, embasado nas leis da causa e efeito, nos mostrará de onde viemos, o que somos e para onde iremos, dúvidas pertinazes que acompanham a humanidade desde o princípio dos tempos.  Também poderá nos mostrar por que sofremos, por que nos separamos das pessoas amadas, por que temos que conviver com pessoas difíceis, por que adoecemos, etc. Obviamente é uma questão que merece ser melhor explicada. Para isso precisamos diversificar um pouco nosso assunto. Precisamos entender melhor a respeito da relação espírito-matéria, como um elemento atua sobre o outro.

              Quase todos nós já ouvimos falar que os semelhantes se atraem e que os diferentes se repelem, porém, se olharmos a questão pelo lado científico, abordando o assunto através de princípios da física e química elementares, vamos lembrar que elementos de cargas elétricas iguais se repelem e de cargas elétricas diferentes se atraem e isto é totalmente diferente das relações de atração e repulsão entre as pessoas. Também fica difícil de explicar desta maneira, como um espírito liga-se a um corpo, sendo que não se pode dizer que um deles seja positivo e outro negativo e vice-versa.

            De que maneira então explicar estas ligações e atrações?  Através também de uma lei da física, chamada "ressonância de campo magnético". O nome é um tanto complicado, porém a explicação pode ser simples.  Imaginemos um grande círculo, onde vários veículos trafegam a uma determinada velocidade. Alguém se                                             

aproxima com um outro veículo e tenta   entrar no

círculo. Se tentar entrar em sentido contrário, colide.

Se tentar cruzar direto, colide. Se tentar entrar  mais

lento ou mais rápido que os veículos que já estão no

círculo, colide. Para conseguir entrar, tem que estar

no mesmo sentido e mesma velocidade dos demais.

Isto pode ser entendido como ressonância de campo

magnético, de   maneira bastante simplificada, é evi-

dente. Esta lei rege os fenômenos de interação entre

espírito e matéria e afinidades entre as pessoas. Quando, por exemplo, aumentamos o volume de um rádio, estamos permitindo uma entrada maior de energia no aparelho, que virá dinamizar o funcionamento específico do controle de volume. Esta entrada extra de energia acontece por ressonância eletromagnética. Quando encontramos uma pessoa querida, sentimo-nos imediatamente bem, percebendo que energias afins dinamizam a nossa vontade e o nosso ânimo. Esta entrada extra de energia no nosso complexo espírito-corpo dá-se por ressonância eletromagnética.

            Podemos dinamizar nossa vontade no sentido positivo e negativo, isto pode se dar pelos pensamentos e sentimentos direcionados para o bem ou para o mal, para o sublime ou para a ignorância. A oração sincera dinamiza nosso ser Divino e aumenta nossa potencialidade de enfrentar as dificuldades da vida. A prática do amor aos semelhantes dinamiza nosso padrão vibratório, nos colocando mais próximos de irmãos mais evoluídos e, consequentemente, suas realizações e alegrias. A mágoa de qualquer tipo dinamiza nosso estado rancoroso e fecha nossa sintonia com o Mundo Maior, abrindo outra sintonia com mundos menos felizes e pessoas sofredoras, o que nos levará, mais cedo ou mais tarde, também ao sofrimento, à dor, à alienação mental, à doença.

            A sintonia e recebimento de energias salutares das forças do bem, através da lei de ressonância eletromagnética, atua diretamente sobre o Deus que existe em nós, ou seja, sobre a nossa consciência, dinamizando sua capacidade de reger nosso destino para o bem, apagando as impressões infelizes nela deixada nos erros tão comuns no nosso passado.

            A sintonia e recebimento de vibrações negativas, também através de ressonância eletromagnética, também atua sobre nossa consciência, como qualquer ato errado que pratiquemos, dinamizando nosso estado inferior, ativando nosso passado de erros, trazendo com mais vigor para o presente o que fomos no passado e que deveríamos modificar na vida presente, e atuando também de forma negativa sobre a projeção do nosso futuro.

           Falamos que nossa consciência rege nosso futuro, mas, como acontece isso? Sabemos, de longa data. o compasso milenar de nossa existência: nascer, crescer, morrer, tornar a renascer muitas e muitas vezes, na escalada evolutiva rumo à perfeição. Sabemos que, como espíritos eternos, iniciamos nossa peregrinação evolutiva no reino mineral, como semente Divina incrustada no cristal esperando maturidade suficiente para emergir para a vida, o que aconteceu no reino vegetal, onde temos as primeiras sensações, que nos colocaria em condições de progredir, posteriormente, no reino animal, onde evoluímos até chegarmos nos animais superiores. Em cada etapa evoluindo nossas sensações e aprimorando, essencialmente, nosso instinto, elemento primordial para nosso desenvolvimento.

            Após a fase animal o espírito passa a viver em mundos intermediários da criação, chamados mundos "had hoc", infelizmente ainda pouco estudados na literatura espírita, para, daí, passar à fase humana, à fase racional do seu desenvolvimento. Tendo já plenamente desenvolvido o instinto no mundo animal, o que lhe assegura a manutenção da vida em condições adversas, ingressa na luta pela aquisição definitiva dos sentimentos. Como “presente de formatura” da fase animal e reino intermediário, a Divindade nos dá o "livre arbítrio", para que, com ele, definitivamente nos individualizemos e possamos aprender por conta própria, como seres livres e responsáveis da Criação.

            Uma polêmica surge neste ponto da evolução, apenas aos olhos humanos, é claro, que ainda está distante de descobrir a verdade. Esta polêmica diz respeito à chamada "evolução em linha reta".  Segundo esta teoria, após passar pelos mundos had hoc e receber o livre arbítrio, o espírito entra numa fase de aprendizado, guiado por entidades bastante evoluídas, que permite a possibilidade de progredir sem tropeços, se assim o quiser. No entanto, alguns espíritos (a maioria, segundo a teoria), não seguem totalmente estes instrutores, já que são dotados de livre-arbítrio, e passam a ter experiências individuais, nem sempre corretas, que os leva a tropeços, a erros que vão, lentamente, mudando seu padrão vibratório,  deformando o corpo espiritual que possuem, aproximando-o cada vez mais da matéria densa, até chegar a um ponto em que, para prosseguirem na escalada evolutiva, necessitam ingressar definitivamente na matéria, ficando dependentes de corpos físicos para evoluírem. Começa então o ciclo das reencarnações.

             Outra linha de pensamento admite apenas que o espírito, após a passagem pelos mundos had hoc, ingressa imediatamente no ciclo das reencarnações. Em qualquer hipótese, permanece a nossa consciência (o Deus que habita em nós) como responsável direto pelo nosso destino, isto devido a imensa capacidade que possui de gravar toda nossa atividade, consciente ou inconsciente, de registrar todas as nossas atitudes.

            Precisamos retornar um pouco mais à física para completar nosso raciocínio: se liberarmos um gás mais leve do que o ar, este vai flutuar pela atmosfera até que encontre nela um ambiente semelhante às suas propriedades. Assim, se enchermos um balão com gás hélio e o soltarmos, ele subirá até encontrar a camada de hélio que compõe a atmosfera. Da mesma maneira, se erguermos uma pedra a uma determinada altura e a soltarmos, imediatamente retornará ao solo, ambiente peculiar à mesma. Seguindo esta linha de raciocínio, imaginemos uma pessoa que, durante sua passagem pela terra, trabalhou pelo bem, adotou como princípio o amor e a paciência, procurou vencer seus pendores negativos. Este, com certeza, dinamizou (ressonância) as energias Divinas contidas em sua centelha eterna, sua consciência, tornando, com suas atitudes, cada vez mais rarefeita as ligações desta com a matéria. Se leve, rarefeita a estrutura íntima do seu espírito, evidentemente seu corpo espiritual, o perispírito, também passará a apresentar um padrão mais rarefeito, que, tão logo apresente-se liberado da matéria, flutuará para ambientes espirituais que lhe sejam compatíveis. Isto não é milagre, Deus não precisa intervir para que os bons "subam aos céus", Ele está em nós, a ciência que Ele criou se encarrega do restante.

                   Da mesma maneira podemos imaginar uma pessoa que, durante a existência terrena, deixou-se levar apenas pelos seus maus pendores, alimentando-se da inveja, do ciúme, do vício, deixando que o rancor conduzisse suas atitudes e espalhando ódio ao seu redor, sempre que sua vontade não fosse satisfeita. Apenas conseguiu, com suas atitudes abafar seu Eu Divino e dinamizar suas tendências negativas. Carregou sua consciência (ressonância) com vibrações negativas que a fizeram ficar cada vez mais densa e compatível com o mundo material. Logo que esteja desprendida do corpo material, permanecerá ligada à matéria, ligado ao mundo que é compatível ao estado de sua consciência, que, obviamente, por ter se tornado densa, também tornou mais denso o perispírito que a envolve. Pobre sofredor, que poderá até encontrar refúgio nas organizações que combatem a luz, podendo, talvez, desenvolver suas potencialidades inferiores, conseguindo prestígio e poder. No entanto, carregará sempre consigo a certeza de que um dia terá que refazer o caminho e, através das trilhas da dor, resgatar suas faltas, recolocar em ordem os elementos da vida que desorganizou através de suas atitudes, limpar, enfim, sua consciência, purificá-la. Sofrimento à vista. Não é Deus punindo. Deus não pune, Ele está em nós, com uma paciência admirável, esperando que entendamos isso. Ele apenas deixa que sua ciência siga seu curso e nós mesmos nos corrijamos, para podermos viver bem dentro dela e, desta maneira, um dia sermos felizes, um dia sermos perfeitos, como é perfeito tudo o que fez.

                 O ser humano, após ter conseguido dinamizar negativamente sua consciência, tornando-a mais densa e consequentemente mais denso seu perispírito e, tão logo esteja consciente de que está indo contra o fluxo natural da vida, que para ser feliz precisa adaptar-se à natureza Divina, entende, este ser humano, que a única maneira de purificar sua consciência é retornando à matéria, via reencarnação, para ali, livre da prisão da memória, "elemento fundamental da consciência", ter a oportunidade sadia de recuperar suas faltas, dinamizar positivamente seu Eu Divino.

            Passa este ser humano novamente pela experiência da miniaturização de sua forma perispiritual, comandada pelos orientadores espirituais que já planejaram seu futuro corpo, de acordo com suas necessidades evolutivas.  Acoplado, desde o momento da fecundação, ao embrião que lhe será abrigo, junto ao colo materno, passa a imprimir sua forma ao novo corpo, que multiplica suas células e cresce rapidamente. Molda ele em seu futuro corpo toda a impressão do passado, que foi liberado de sua consciência pelos orientadores espirituais. É desta atividade, bem orientada e de acordo com as leis naturais, sem intervenções Divinas, que aparecem todas as complicações enfermiças de nossas vidas, ou seja, as doenças, as anomalias, as deficiências físicas e mentais.

            Vamos exemplificar de maneira simples: Uma pessoa em determinada existência, quando diante de provas que, se enfrentadas com dignidade, lhe dinamizariam o seu Eu Divino, projetando-lhe ao avanço espiritual, deixou-se levar pela covardia e optou pelo suicídio através da ingestão de veneno. Feriu gravemente sua consciência. Deus é vida. O Deus que habita em nós, existe para a vida. Funda ferida imprimiu-se nesta consciência. Mesmo que ela queira esquecer esta atitude voluntariamente, não será possível, ela feriu o princípio elementar da vida. Esta consciência ferida, com o tempo, passará para o corpo espiritual esta impressão, que ficará marcada indelevelmente em sua estrutura íntima. Um dia esta pessoa se verá novamente diante da reencarnação. Será miniaturizado seu perispírito e este modelará novamente seu futuro corpo. Perguntamos então: Poderá esta matriz, deformada pela atitude tomada no passado contra a natureza Divina, formar com perfeição o novo corpo?   Mesmo que os orientadores quisessem intervir, não poderiam fazer milagres. Deus não faz milagres. Deus não pune. Deus não premia. Deus já fez tudo perfeito, não precisa mais intervir. Esta pessoa não conseguirá formar perfeitamente seu corpo e será bastante fácil que no decorrer de sua nova vida venha a desenvolver, por exemplo, um câncer de esôfago ou garganta, muito provavelmente na mesma idade que tomou a atitude extrema na encarnação anterior. É a Natureza nos ensinando a viver dentro dela.

                Dentro deste princípio reencarnacionista, vamos encontrar as mais variadas situações que envolvem as dificuldades humanas. A saúde, olhando-se por este prisma, distancia-se do corpo físico, residindo essencialmente no espírito, ou antes, na essência Divina incrustada no âmago de nossa personalidade, na nossa consciência. Chegará um tempo em que a ciência oficial, (terrena, diga-se de passagem, pois o homem encarnado, conhecendo apenas um vão da verdade, acha-se sempre no direito de impor seus conceitos sobre todas as coisas como últimos, esquecendo-se que ainda não conhece a verdade sobre Deus), a medicina especificamente, perceberá que vem, através do tempo, tratando apenas os efeitos físicos das doenças. O dia em que esta ciência dobrar seu orgulho às evidências do espírito, entraremos na era da saúde. Hoje, vivemos na era da doença, pois se entendemos que o nosso domicílio espiritual ainda é a Terra, é porque nossa consciência ainda não está limpa dos nossos tropeços do passado, desta forma, ela ainda não é capaz de projetar ao seu redor "revestimentos" perfeitos, perispirituais ou corporais. Ou seja, ainda somos todos doentes e esta doença manifesta-se das mais variadas formas, através dos desequilíbrios físicos ou mentais e através da receptividade que nosso corpo oferece a elementos invasores, como vírus ou bactérias, por exemplo.

           Quando o ser humano entrar na era da saúde, estaremos numa nova fase evolutiva e teremos condições de modificar o padrão natural do revestimento de nosso espírito. A matéria terá cada vez menos atração sobre nós e poderemos dinamizar com mais facilidade as capacidades do espírito, aumentando nossa capacidade intelectual, que só irá adiante se for embasada na evolução moral, pois só é dado ao homem novas e definitivas conquistas, se souber o que fazer com elas.

           Segundo espíritos respeitáveis, como Emmanuel, por exemplo, em seu livro A Caminho da Luz, estamos muito próximos deste tempo que se aproxima com o terceiro milênio, quando a terra passará por transformações substanciais, ocorrendo aqui o  que aconteceu um dia, num  dos distantes planetas da constelação de Capela, que há milênios atrás encontrava-se  em situação evolutiva semelhante à nossa, porém, legiões de espíritos ainda afeitos ao mal, atrapalhavam a marcha natural da evolução daquele planeta, sendo necessário, naquele  momento, que estes espíritos, já dotados de inegáveis conquistas da inteligência, fossem de lá retirados,  para não impedirem o progresso dos que já tinham aliado as conquistas intelectuais com as morais.

            Assim, sob a orientação magnânima de Jesus, Governador Espiritual do nosso planeta, foram trazidos para a Terra, no intuito de não apenas continuarem sua evolução, mas também para ajudarem a evolução dos primitivos habitantes do nosso mundo e, desta maneira, sentirem a imperiosa necessidade do bem para serem felizes, já que pela falta deste é que foram banidos de seu planeta. Aqui na Terra imprimiram novo ritmo evolutivo e formaram as quatro grandes raças da antiguidade, ou seja, os Egípcios, que vieram com a menor quantidade de faltas a serem resgatadas e, desta forma, foram os primeiros a retornar ao planeta de origem; os Indianos, os Hebreus e os Árias, que se espalharam pelo continente Europeu dando origem aos povos que o povoaram.

            Segundo Emmanuel, estamos no mesmo estágio evolutivo da época que aqueles espíritos foram banidos de Capela e o mesmo fato deverá ocorrer na Terra. Os espíritos que aqui ainda são avessos à Luz, serão levados a um dos infindáveis mundos da Criação, que esteja no princípio de sua evolução racional, para lá continuarem sua marcha evolutiva, em condições evidentemente muito mais ríspidas, o que lhes fará melhor aquilatar o quanto perderam por serem renitentes no mal. No nosso planeta ficarão todos aqueles não propriamente bons, mas, ao menos, não contrários à luz. Poderemos, por fim, viver num mundo isento de vícios, de crimes e especialmente de obsessões, que tanto mal faz ao nosso dia a dia.

          Isto tudo, evidentemente, é obra de Deus, mas não de um Deus que precise estar o tempo todo interferindo no destino de suas criaturas. A cada movimento nosso, a natureza à nossa volta, da maneira como foi criada, nos responde com um movimento contrário de mesma força e intensidade. A cada pensamento nosso, emitimos uma vibração que se propagará numa faixa de onda que lhe for compatível, sendo que o caminho do pensamento por esta faixa de onda, abre nossa sintonia vibratória a vibrações do mesmo teor do que emitimos, num mecanismo de ida e vinda de vibrações, ou seja: bons pensamentos, receberemos imediatamente boas vibrações; maus pensamentos, más vibrações. Esta é a Natureza Perfeita. Isso é Deus e dentro deste Deus nós vamos, mesmo que a passos lentos, crescendo.

quinta-feira, 19 de março de 2020




Paris, setembro de 1793 é um romance que se passa em duas épocas e no mesmo local. Mauro Camargo, ao usar como pano de fundo de seu intrigante romance o que foi chamado de Período do Terror da Revolução Francesa, com grande fidelidade histórica, aproveita para explorar um assunto pouco abordado pela história oficial, que foi a influência do magnetismo animal, de Mesmer, sobre vários líderes revolucionários do princípio do movimento.
O mesmerismo, como era chamado, foi o resultado dos estudos feitos pelo médico Franz Anton Mesmer sobre o magnetismo animal. Ele revelou a ligação íntima que há entre todos os seres vivos por meio da energia vital, sem distinção, o que ia contra os alicerces que sustentavam a nobreza e o clero, ao mesmo tempo em que dava nova dimensão ao ideal de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
A ciência do magnetismo animal, décadas depois, abriria caminho para o surgimento do espiritismo, a ponto de Kardec a considera-la como ciência irmã. A imposição das mãos, além de promover a cura do organismo, levava alguns pacientes ao estado sonambúlico e estes relatavam uma nova realidade além da matéria, efetivando pela ciência, e não pelo misticismo, a evidência da vida além da morte. A rígida disciplina de Allan Kardec, aliada à sua elevada estatura moral, explorou com sapiência essa interação entre os dois lados da vida para trazer ao mundo o espiritismo.
O romance, perfeitamente fiel aos princípios espíritas, tenta mostrar a importância de estarmos atentos às nossas aflições, pois elas nada mais são do que palavras escritas pelo passado nas páginas do destino. De maneira pouco usual, o romance procura mostrar o presente e o passado dos personagens ao mesmo tempo, para que leitores e leitoras possam compreender com maior clareza como os mecanismos de ação e reação agem em nossa vida, o que nos dá uma dinâmica inusitada, atraente e inovadora

domingo, 19 de novembro de 2017

Virtudes Essenciais...


         A dependência química é um mal alastrado mundialmente afetando todas as camadas sociais e exige atenção, dedicação e muito AMOR para mitigar o seu imenso potencial de destruição da família.

Os graves problemas vividos naquela comunidade, entre eles a dependência química, eram solucionados frequentemente com a carinhosa participação de padre Godoy, admirado e respeitado por todos os membros de sua paróquia. Mas, para melhor agir, o mundo espiritual decidiu que ele deveria conhecer uma encarnação anterior daquelas pessoas, da qual ele também fizera parte, durante a inquisição espanhola. Só assim ele entenderia a intricada rede daquelas relações e compreenderia a ação da justiça e da providência divinas para o resgate dos erros pretéritos e prosseguimento do progresso daqueles indivíduos. Só o amor incondicional os libertaria para viverem a verdadeira felicidade.

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

nascendo mais um filho...

No século XIX, enquanto as jovens eram educadas para um bom casamento, Marie de Barrineau, nos seus 17 anos, via na educação uma ponte para liberdade do espírito através do conhecimento. Mas, o que fazer quando a paixão bate à porta da sua casa e nela se hospeda? A convite de Philippe de Barrineau, pai de Marie e entusiasta da nova fenomenologia espírita, o jovem médium Teofille hospeda-se em sua casa para descansar depois de uma temporada de apresentações em Paris. Enquanto a cidade de Angers, no vale do Loire, agita-se com a Facultés Libres de l’Ouest, a primeira faculdade privada da França, Marie se vê envolvida com um personagem enigmático e misterioso. Os segredos que carrega podem não apenas destroçar sua família, mas também lançar dúvidas sobre o trabalho do professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, amigo de seu pai e que, como Allan Kardec, fez nascer no mundo o espiritismo, uma doutrina revolucionária para o ser humano.

domingo, 4 de setembro de 2016



de fato, Temer não era o que eu queria, e creio que falo por muita gente, muita mesmo.
Porém, quem colocou o cara de vice foi o PT e agora, pela constituição (tão facilmente cuspida por aliados do PT, declarados ou não) ele é presidente. Então os que são contra o Temer, na sua imensa maioria são favoráveis à Dilma, e gritam FORA, e vociferam mazelas, como se aquela governanta fosse um exemplo de competência e ética, enquanto que este apenas um golpista aproveitador. Espalham ódio e gritam como se nada de errado existisse antes, ou dizem que o que estava errado sempre existiu. Bem, eu esperava que, no mínimo, em 13 anos de governo o PT pudesse fazer diferente. Não fez, e além de não fazer, piorou. O partido da ética abraçou Maluf e desmanchou a economia brasileira pela sua insaciável sede de poder, além de ser vítima de um sórdido jogo político que esteve em suas mão mudar. Não mudou, e além de não mudar, piorou. Não fez a prometida reforma política. O mensalão, copiado do PSDB, gerou uma cultura de trocas espúrias que acabou por afundar o que nos restava de cidadania, e coitados dos pobres que foram usados como marketing e agora voltam a naufragar nas suas desumanas misérias. Por sinal, talvez o maior mal deixado pelo PT seja exatamente a política feita por marketing, exatamente como está acontecendo agora, quando se intensifica a estratégia de repetir um grito, uma mentira, até que todos pensem que é verdade. Assim vemos "protestos" espalhados pelo país, na maioria das vezes, violentos, radicais. Que bom! Bom mesmo, porque o radicalismo afasta milhões de votos. É muito bom que a esquerda, magoada e sem moral para aceitar e reconhecer seus próprios erros (como sempre), esqueça que foi só quando Lula gritou que era o Lulinha paz e amor é que conseguiu enganar o povo e ganhar eleições.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Congresso Nacional, o câncer do Brasil.

 
 
o maior câncer moral do Brasil se chama CONGRESSO NACIONAL.

... é de lá que deriva a grande maioria dos males que nos assolam, porque foi tomado por uma corja de bandidos disfarçados de políticos.

quase nenhum representante do povo que lá está representa o povo. Representam apenas a si mesmos, porque nem se pode falar que representam um partido, ou uma ideologia. Vão para a política pensando em poder (principalmente poder de barganha), e, como consequência deste poder, dinheiro. Obviamente, dinheiro não lícito.

o discurso desta corja vai continuar o mesmo: saúde, educação, escola, transporte, segurança e sim, vão lutar em todos estes campos, mas procurando desvãos por onde vazar propina para suas contas.

qualquer governo que acampe no Executivo não sobreviverá jamais sem amaciar, adoçar, adular, a corja (do qual este mesmo governo veio). Esta situação ficou ainda mais estabelecida e imoral depois do governo Lula, que institucionalizou a compra destes marginais com o mensalão (e não me venham dizer que os fins justificam os meios, por que não, não justificam).

este bandido que aparece na sua tv como o melhor cidadão do mundo de tempos em tempos, só quer o seu voto, e nada, mas absolutamente nada mais. E ele sabe que se você confirmar seu voto nele, mais duas ou três pessoas perto de você também o farão, num efeito de massa que dá a ele tanto prazer. Então, não dê seu voto a ele, que destrói descaradamente a vida no Brasil.

no mínimo veja sua ficha pregressa, sua ficha criminal, seus projetos... de preferência, não reeleja NINGUÉM. Lamento que um ou outro tenha boas intenções, mas acima disso está o poder de transformação que o NÃO VOTO NELES possui, muito maior que o voto em quem já está lá. Não vote em quem já está lá e vamos reformular o Congresso a cada ciclo eleitoral. Você pode, eu posso.. comece a escrever sobre isso, a falar sobre isso, e o fator de multiplicação de sua ideia tomará conta, porque duvido que vc realmente acredite que algum bandido possa fazer alguma coisa de bom pelo Brasil.

se tem dúvida ainda, pense no desemprego, no feijão caro, na criminalidade desenfreada, no desmatamento, nas leis espezinhadas, no poder judiciário manipulado, nas leis feitas para protegê-los, na situação das escolas e dos professores, na situação das estradas (e a indecente falta delas), nos doentes empilhados em corredores de hospitais, na pobreza que é massa de manobra destes indecentes...

poucos países no mundo têm tanta riqueza como o Brasil... poucos países do mundo são tão roubados pelos políticos como o Brasil... faça alguma coisa, por favor.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Eu não sou santo...

é claro que não! Tenho meus deslizes, embora tenha tido uma boa formação escolar comparando-se com a média geral. Estudei em escola pública quase toda vida e vim de uma família classe média que sofreu para vencer e manter-se estável. Esta família me passou uma formação moral exemplar e, se ainda tenho meus deslizes, é por minha conta como indivíduo. Talvez se esta formação fosse mais frouxa, meus deslizes seriam maiores e entrariam na faixa da criminalidade. Quem sabe? Mas eu cumpro o máximo possível meus deveres familiares, profissionais e sociais, o que cria ao me redor um ambiente estável, desde que não seja invadido por pessoas sem o mesmo padrão de comportamento. É claro que este tipo de invasão é comum, faz parte da evolução individual e coletiva. Evoluímos por atrito e crescemos sabendo conviver com as diferenças. Quando alguém de padrão de comportamento diferente causa algum abalo no meu meio é preciso que, rapidamente, eu consiga restabelecer o equilíbrio, para mitigar as consequências. Quanto maior a diferença de padrão, mas difícil restabelecer o equilíbrio.
           Devo causar abalos em ambientes mais equilibrados que o meu, certamente. Estar atento a isso e procurar evitar abalos em ambientes "dos outros" faz parte também da evolução. Além de evitar causar abalos, melhor ainda é se eu souber copiar modelos de equilíbrio que possam ser úteis para melhorar o meu ambiente.
         Contudo, vivemos uma sociedade opressiva. Como brasileiros, o atrito é intenso. Violência e falta de cidadania são gritantes e produz um efeito terrível na construção de barreiras ao redor do nosso ambiente. Uma construção tão intensa que abala o próprio crescimento do indivíduo dentro destes ambiente, por que acabamos nos isolando, ficando desconfiados, irritados e até agressivos com invasões que poderiam até ser naturais ou benéficas. A construção de muros é um fator de estagnação em vários quesitos evolutivos, porque, com muros de proteção altos, fico mais à vontade com meus "pequenos deslizes". Torno-me conivente com meus erros e, porque não, me comparo com mais facilidade com um turbilhão de erros evidentes maiores que o meu. Acabo me achando "o cara". Que desastre!
          A situação social, política e econômica no Brasil está desastrosa. Quando vemos a lei ser burlada com escracho por quem tem algum poder; quando vemos o desleixo com nossos direitos e dinheiro por parte da classe política; quando vemos que a falta de investimento em saneamento básico nos ameaça de morte dentro das nossas casas; quando vemos que professores lutam insanamente pela sobrevivência enquanto que um mísero vereador iletrado consegue ganhar o suficiente para viver como rei; quando vemos que escolaridade é palavra nobre só em campanha eleitoral; quando vemos que segurança é confundida com truculência por uma polícia mal formada e que não há investimentos dos governos para termos uma polícia adequada; quando vemos que a imoral quantidade de impostos que pagamos não retorna em nada além de corrupção e deboche; quando vemos famílias mortas, pessoas mortas, por bandidos que não têm a mínima noção de respeito à vida; quando vemos machismo, feminismo, homofobia, xenofobia, racismo, sendo usadas por interesses de ideologias sem traços de humanidade; quando vemos homens públicos fazendo dinheiro com merenda escolar (meu Deus!!!); quando vemos o grande bordel que virou Brasília, ou bordéis, porque cada poder tem suas putas próprias, com todo respeito às profissionais do sexo. Quando vemos tanta coisa que faz este caldo de amarguras que se tornou o doce e maravilhoso Brasil, nos sentimos acuados em nosso pequeno ambiente de equilíbrio.
         Eu me sinto assim, acuado. Eu, com meus deslizes e meu padrão de comportamento. Imagine os que têm um padrão de comportamento melhor. E pensem no que acontece com os que têm um padrão pior... não vão se sentir estimulados a expandirem seus ambientes próprios? É... a expansão do mal na nossa sociedade é inevitável , enquanto tudo se mantiver assim, e não há como implantar modelos sociais ou aplicar ideologias de esquerda, direita ou centro, ou seja lá que ideologia for, se esta sociedade não for amparada pela lei. Lei é proteção. Lei é o valor máximo da sociedade, principalmente quando o padrão de comportamento dos diversos ambientes comportam tamanhas disparidades. Infelizmente estamos muito longe de qualquer padrão de igualdade humana, tamanha nossas disparidades. Porém, somos iguais perante a lei. Somente a lei é capaz, no momento, de produzir igualdade. Se a lei não for refletida, contemporizada e, acima de tudo, respeitada, caminharemos rapidamente para a bancarrota social que poderá nos levar à ditaduras mais perversas do que a que estamos vivendo. Quem é mais velho sabe do que estou falando.
         Eu não sou santo, tenho meus erros, mas estes erros, em hipótese alguma podem justificar erros dos que estão no ápice da hierarquia social e política. Pensar assim é cometer uma monstruosidade intencional com o entendimento. A lei que me regula precisa ser a lei que regula todos os níveis sociais, sem exceções. 
         Por não ser santo é que preciso de leis. Ninguém que vive por estas paragens é santo, então...
        



sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Tudo por um abraço



           
            A tarde começava a encostar na noite quando José encontrou Maria. Ele a havia deixado aos cuidados de outros instrutores no dia de Natal, para que ela aprendesse com mais pessoas além dele, mas agora estava curioso para saber o que ela havia aprendido.
- Então, como foi o dia? – perguntou.
- Kara, de boa, fiquei @ com o que Ὢ, vc n imagina o q ta ᾥ... nunca ♥ que ia passar um ☼ assim...
- Hã???
- KKKKK... kikikiki... heheheh ... clap clap clap...
- Maria, você endoidou?
- Calma, José.  É que passei o dia cuidando de meninos e meninas que ficam o tempo todo grudados no celular... eles ganharam aparelhos novos de presente de Natal.
- Ora, mas precisa cuidar deles, se só fazem uma coisa? – perguntou José, mais para testar o que Maria havia aprendido.
- Precisa, e muito! Aprendi isso hoje. O maior problema é esse, por estarem em silêncio quase sempre em um só lugar,  os pais pensam que não tem perigo. Como tem perigo! Muito!
- Como assim? – insistiu José, incentivando a sua tutelada.
- A ligação mental destes jovens é intensa e nada precavida. A imensa maioria fica horas e horas apenas trocando futilidades... são os eternos kikiki, kakaka e clap clap clap. A mente entra num monoideísmo precursor de várias catástrofes psicológicas. É como um corpo sedentário, com o tempo adquire infindáveis doenças até chegar nos derrames, infartos... desenvolve diabetes, atrofias. A mente aprisionada pelo monoideísmo, mesmo que seja tecnológico e aparentemente muito ativo, se predispõe à indolência, à preguiça, ao vício... muitos tipos de vícios. Sem contar tantas amizades fúteis, tantas paixões equivocadas que acabam dificultando tanto o futuro...
- Vejo que aprendeu bastante. Então a mente precisa correr, se exercitar?
- No mínimo caminhar... ver outras paisagens, estabelecer novas conexões, e que sejam mais duradouras, e não as conexões fugazes, instantâneas da mistura celular/internet. Você bem sabe meu amigo, e bem melhor do que eu, que as sombras estão atentas e acompanham aqueles que se escondem da luz. Hoje meu novo instrutor precisou intervir afastando muitos irmãos mal intencionados de jovens que não eram ruins, apenas indisciplinados. Agora imagina os jovens que tenham ainda algumas sementes de maldade ou fraqueza querendo germinar em si, como o instrutor falou.
- E os pais pensam que tecnologia é insubstituível. No fundo estão fazendo de conta que geram segurança, mas só estão pensando no conforto pessoal. Dão presentes caros para compensar a má vontade quanto à dedicação do seu próprio tempo... mas, nossa!, você esta mesmo muito abatida. Vejo que aprendeu bastante, mas, ficar perto de você é como cair num abismo energético...
- ... me desculpe, José, não consigo chegar perto deles e não me envolver emocionalmente... acabo trazendo muitas energias... ainda estou aprendendo como se faz.
- Ora, não se desculpe. Tenho certeza de que fez um lindo trabalho. Mas, venha, vamos nos movimentar um pouco antes de descansarmos, já que a mente tem ao menos que caminhar.
- E aonde vai me levar?
- Ainda não terminei todos os meus compromissos. Preciso visitar uma família conhecida que passou por alguns problemas recentemente. Quero ver como está sendo o Natal deles... – respondeu José, abrindo os braços e projetando ao redor de Maria uma luminosidade azulada que a fez rapidamente levitar.
- Ah! Que boa essa sensação de ser levada... obrigada, José! – falou Maria.
- Minha amiga Maria, você está cansada, então o que me custa a envolver nestas energias que estão sobrando e carregá-la um pouco... mas veja, é aqui a casa da família. Olhe ali no quintal, que lindos os dois irmãos!
José havia entrado pelos fundos de uma casa modesta e passado por uma garagem, que não era mais do que dois pilares segurando um telhado de amianto projetando-se da casa. Não havia carro na garagem e a casa demonstrava a situação financeira difícil pela qual passava a família. No degrau da porta da entrada da casa havia duas crianças sentadas, em aparente desânimo.
- Quem são? São lindos mesmo, mas, não parecem estar muito animados com o Natal. – falou Maria.
- O mais velho se chama Pedro, tem 10 anos... o mais novo é Mateus, 7 anos...  a família sofreu um baque há dois anos. Eles estavam bem inseridos dentro da sociedade, o pai era um pedreiro que virou construtor e a mãe cuidava dos filhos. Iam muito bem financeiramente e nada de material lhes faltava. Mateus e Pedro tinham quase tudo que queriam. Se não fosse a tragédia, talvez hoje eles estivessem na sua lista de alienados do celular...
- Mas... qual foi a tragédia?
- O pai, Tiago, juntou muito dinheiro e resolveu construir um edifício para vender os apartamentos. Trabalhou muito, muito, muito. Ele e a esposa sempre foram muito honestos, mas, como a grande maioria das pessoas, usavam o trabalho como escudo para justificar o doce vício de ganhar dinheiro. Bem, isso é ainda melhor do que ganhar dinheiro sem trabalhar, mas, não deixa de ser um vício. Inclua-se neste vício um pouco de avareza e tudo se complica...
- Ainda não me contou da tragédia, José... fiquei curiosa...
- Por ter que trabalhar demais, Tiago não percebeu que a esposa estava doente. Uma doença quase silenciosa, que ela esperava tratar depois que o edifício ficasse pronto. Não queria atrapalhar o marido, não queria desviar o dinheiro da construção para a saúde, então esperou. Quando o marido soube, era tarde, o câncer já tinha espalhado metástases.
- Não sei como, mas já imaginava que o caminho era esse... – falou Maria, entristecendo.
- Você demonstra ser muito dedutiva, mas a tragédia não foi só isso. Uma grande enchente, como nunca tinha acontecido antes, tomou conta da construção e toda a fundação do edifício ficou comprometida. Muitos apartamentos já estavam vendidos e, depois da água baixar, Tiago trabalhou ainda mais para honrar seus compromissos, só que, em área de inundação, ninguém quer comprar imóvel. Nem conseguiu vender novos apartamentos, nem entregar os já pagos. A ruína financeira foi inevitável, assim como a morte da esposa. Tarde demais para tratar, ainda mais sem dinheiro.
- Ainda tem mais? Estou sofrendo com isso...
- Desculpe, minha querida... se quiser a levo e volto depois...
- Como assim? Agora que você me envolveu? Conta tudo...
- A mãe partiu numa manhã fria de inverno, tão fria quanto o coração de Tiago. Somente a responsabilidade pelos filhos não permitiu que ele também partisse, porém voluntariamente, atrás da esposa. Não conseguiu pagar todas as suas contas. O restante da família não tinha muitas posses, e também não simpatiza muito com ele. Os irmãos sempre foram chamados por ele de preguiçosos... sabe como é... Então não teve apoio e, diante de tamanha dívida, se escondeu. Ele gostaria de pagar tudo, mas, falido, pelos seus critérios, não teve outra saída.
- Então ele não é desta cidade onde estamos?
- Não... tudo o que lhe contei aconteceu distante daqui. Tiago veio para cá com os filhos, para uma cidade bem menor, e alugou esta casa humilde. Colocou os filhos em escola pública e tem trabalhado desesperadamente, agora pensando em recuperar-se financeiramente, pagar as dívidas, limpar a honra, garantir o futuro dos filhos, ganhar dinheiro...
- Sempre o doce vício do dinheiro, não é?
- Sim... mas não podemos condená-lo. Está fazendo o que acha mais certo. Quanto era criança não teve uma educação muito diferente disso e, como diz uma amiga minha que sempre erra os trocadilhos: a árvore nunca cai longe do pé...
- Mas tem alguma chance dele mudar e fazer diferente, para que um dia os filhos não repitam o mesmo erro?
- Claro, mas, lembre-se, a evolução é lenta. Ele já tem méritos em muita coisa, mesmo tendo fugido dos seus compromissos. Veja, os meninos estão bem vestidos, embora com roupas simples, e até comprou presentes para eles, mesmo que sejam os mais baratos que pode comprar.
- Presentes? Onde estão?
- Não está vendo, ali, na calçada...
- O que é isso?
- Ora, Maria... é uma bola  e um peão... vai me dizer que nunca jogou peão? Vai me dizer que nunca brincou de bola?
- ehhh... bem, você sabe, desde que voltei tenho trabalhado muito para me recuperar...  me colocaram para trabalhar com você, que já me ensinou muito, mas não consigo lembrar de quase nada do passado... Dizem que meu desenlace foi muito traumático e eu mesma criei barreiras para a minha memória. Então, peão, bola, lembro disso, claro, porém, acho que também sou de outra geração, não sei... mas vejo que os meninos também não sabem como brincar...
- Não sabem mesmo, mas é por isso que viemos... vamos ensinar. Afinal, foi o presente que o pai pode comprar, e com muito custo...
- Ensinar? Como dois espíritos vão ensinar dois meninos encarnados a brincar de peão e bola?
- Vamos gerar alegria, venha comigo...
José tomou Maria pela mão e a levou para dentro de casa, onde encontraram Tiago sentado em um sofá velho, assistindo televisão, Era fácil ver que seus olhos estavam na tela, mas seu pensamento divagava no passado, enquanto o coração se enchia de tristeza e saudade.
- Nossa! É triste ver uma família assim, no Natal – falou Maria, tocada pela energia do ambiente.
- Só que não viemos aqui para sentir tristeza, minha amiga. Preciso que me ajude. Vá até os brinquedos e fique muito feliz ao tocá-los? Sabe como fazer, não é? Sei que já a ensinaram como magnetizar objetos do plano material.
- Sim, eu sei. Vou me alegrar como posso, me encher de amor, pensar em Jesus, pensar em amigos, risos, paz, e tocar os brinquedos... e você, o que vai fazer?
- Vou tentar mudar um pouco os pensamentos de Tiago. Vou fazê-lo lembrar de quando era criança e brincava com o pai de peão e bola, vou tocar suas emoções... o pai era uma pessoa difícil, mas ficaram algumas boas lembranças a serem exploradas.
            Maria precisou ser rápida, porque José era muito eficiente em influenciar as pessoas. Em poucos minutos Tiago passava por cima dos filhos e pegava os brinquedos, que logo no primeiro toque já começaram a se iluminar aos olhos sensíveis do espírito.
- Ei... pai... como é que você fez isso? – perguntou o pequeno Mateus, que até aquele momento estava desinteressado e distante, mas que, ao ver o peão girar e formar desenhos diferentes, ficou muito surpreso.
- Isso o quê? – Perguntou Tiago - nunca viu um peão rodar? E você aí, ô pé de vírgula... o fundo da garagem é a trave... gooooollll...
- Ei! Você chutou antes do goleiro estar na trave... este gol não vale...- gritou Pedro, correndo para o fundo da garagem e se preparando rapidamente para a próxima defesa. Um pênalti na final do campeonato!
- Pai... pai... faz de novo... enrola o fio e joga o peão... – gritou Mateus.
- Veja Maria – falou José - preste atenção... veja o que acontece com a energia que você colocou nos brinquedos...
- Nooossa! Que lindo! Parece que sai luz deles cada vez que são tocados... veja, quando a bola bate na parede é como se fogos de artifícios explodissem... e o peão rodando joga centelhas de luz colorida para todo lado...
- Esta luz é alegria... veja como se espalha e se junta novamente, cada vez em maior quantidade. Veja como vai grudando no corpo espiritual deles e se infiltrando para os centros de energia. Veja como se acumulam no coração... daqui a pouco vão ter uma crise incontrolável de riso por qualquer trapalhada boba que façam... a alegria limpa a alma, desintoxica o coração...
- Eu nunca imaginei que podia ser assim... isso é fantástico, como estão felizes agora! Que mudança!
- Eles estão e nós também. Perceba que seu mal estar sumiu... Mas venha, vamos deixar que se fartem de alegria, depois, quando dormirem, vamos encontrá-los do lado de cá...
- Ah, é? Que legal! Mas, aonde vamos agora?
- Descansar, minha querida, espíritos também descansam. A casa já se encheu de novas energias, o ambiente está limpo e creio que Tiago e os filhos não vão se incomodar que usemos um pouco a pequena sala – falou José, mais uma vez levando a amiga pela mão. Assim que Maria sentou no velho sofá, perguntou:
- Nós podemos fazer alguma coisa também em relação à situação financeira deles? Não sei ainda até onde vai nossos limites...
- Não, nós não... ao menos não mais do que já fizemos. A alegria contagia. Tiago fez uma conexão mental com o passado, com o pai, que também trabalhou muito e não deu a ele toda a atenção que merecia, perdido nos mesmos doces vícios do dinheiro. Entendeu que não pode repetir os mesmos erros. Agora vai remoer novos pensamentos em relação a isso e, dependendo de como começar a agir, a Providência, se assim podemos chamar o planejamento cármico das nossas vidas, também agirá a seu favor...
- Sério? Então é assim que acontece? Um toma-lá-dá-cá?
- A vida é feita de ação e reação, causa e efeito. Quanto mais amor e honestidade colocarmos na ação, mais colheremos amor e honestidade na reação. A tão falada justiça Divina vai bem além de simples prêmios e castigos. Tudo depende exclusivamente de nós, minha amiga. Coloque ainda nas ações o carinho, o respeito, o perdão, a paciência, a persistência... e imagine que reação a vida nos dará... Tiago, com a experiência de hoje, começou a entender que um abraço vale realmente bem mais que uma moeda. Que um presente caro não substitui o tempo que doa aos filhos, aos amigos, a quem veio para conviver com ele. Pelo que sei, há um comprador interessado no terreno onde ficou o edifício semiconstruído. Ele tem um grande projeto de derrubar tudo, fazer um grande aterro e construir um shopping no local. Com o dinheiro da venda do terreno ele já paga todas as contas...
- Então o problema está resolvido... – falou Maria, eufórica.
- Não... não está, ainda não... a não ser que você também ache que tudo se resume a dinheiro.
- Não... não foi isso que quis dizer... – respondeu Maria, um pouco envergonhada.
- Vai depender dele se comprometer com os novos ideais que está vislumbrando. É uma nova chance, não é? Mas, quem sabe como ele vai se comportar no futuro, quando estiver com tudo pago? Fazer o certo exige muita persistência...
- Ei! Você me enrolou – falou Maria, ao ver que pai e filhos já estavam deitados em suas camas - pensei que íamos descansar... eles já foram dormir e estão se desdobrando. Como o tempo passa rápido aqui!
- Eu enrolei você com as energias dos bons pensamentos, minha amiga. Quer descanso melhor do que o equilíbrio que isso nos trás? Mas agora é hora de encontrá-los do lado de cá... está preparada?
- Eu teria que estar preparada?
- Acho que sim – falou José, apanhando o duplo etéreo de um porta-retratos de cima de uma mesa e entregando-o a Maria, no exato momento que pai e filhos entravam na pequena sala e ficavam boquiabertos com o que viam.
- Ei! O que está acontecendo? – perguntou Maria, ainda sem olhar para a foto do porta-retratos – nossa! Até parece que vocês me conhecem! Eu brinquei com vocês hoje... mas estava do lado de cá e vocês no lado de lá... não acredito que vocês me viram...
- Mãe... mãezinha... não lembra mais da gente? – perguntou Mateus, correndo para ela e a abraçando.
- Mãe... mãe... eu? Ai, meu Deus! – falou Maria, agora olhando para a foto dela abraçada ao marido que tinha nas mãos. Seu coração teve um descompasso e seus olhos se encheram de lágrimas. Foi como se uma porta se abrisse de repente e todo o passado que estava escondido atrás dela entrasse por aquela sala.
- Maria... Maria... que saudade! Que saudade... você voltou... – falou Tiago, ajoelhando-se no meio da sala, tamanha a emoção.
O instrutor José deu um passo para trás e seu coração se encheu de alegria quando todos se abraçaram. Um raio de luz rasgou o ambiente e os envolveu a tal ponto que José quase não mais os via. Seus olhos, também inundados, fazia a luz se espalhar e se perder no meio de tanta alegria. Então, no meio da luz ele viu que Maria lhe estendia a mão e o chamava. Percebeu pelo sorriso dela que também havia se lembrado dele. Aproximou-se lentamente e abraçou a todos. Tiago, ao perceber que havia outra pessoa junto com eles, separou-se um pouco da esposa que retornava da morte para encher-lhe a vida de esperança, e olhou para José. Mais uma vez a emoção fez bambearem suas pernas e se ajoelhou. Entre soluços, falou:
- Pai! Meu pai... você também veio...
            - Sim, meu filho... vim lhe desejar um Natal de paz...




domingo, 29 de novembro de 2015

O Brasil da semântica espetacular

Ou o Brasil onde mais se brinca com a semântica? Ou o Brasil onde a semântica é uma sacanagem? Não sei. O que sei, e que vejo, escuto e leio, é que as palavras podem ser interpretadas das maneiras mais inventivas, passionais e desonestas possíveis, sem que nada mude efetivamente. Destruir pode significar desconstruir, e quem diz isso o afirma com plena segurança de sua honestidade; assim como o que se viu, não viu. O que se leu, não leu e o que se falou, não falou. O que tenho visto, escutado e lido, é que amigos não são tão amigos assim e mesmo amigos que um dia foram de confiança, era um engano, mas nunca um engodo. Alguns que eram para ser amigos, na verdade, nem se conhecem, talvez até tenham se visto por aí, nada mais. Porém, tudo o que se falou sobre isso foi mal interpretado.

Pelo que nos querem fazer acreditar é que tudo é questão de interpretação. Então tentar mandar para fora do país um acusado que pode ser uma bomba de informações era apenas uma ação humanitária. Como ninguém entendeu isso? Então não saber de uma mutreta milionária é muito perto de saber e não entender o que era, mesmo que fosse obrigação saber o que era. Ter aceitado um contrato fraudulento pode ser substituído por não ter lido um contrato fraudulento, ou lido só uma parte. Então ter conta em nome da esposa, ou da família, na Suíça, não é o mesmo que ter conta na Suíça.Outros têm conta mas não lembram. É tudo questão de interpretação. E temos que acreditar nisso, porque quem decide se isso é verdade ou mentira, não pode dizer se isso é verdade ou mentira, porque podem ter que, a qualquer momento, usar da mesma semântica. Então se decide se um voto é secreto ou aberto não pelo medo da opinião pública saber sua posição, mas porque é constitucional. Tão justo! Tão justo como termos que acreditar que a crise não existe, é propaganda, ou, se existe, é por culpa da irresponsabilidade de outros governos, tão somente. Tão justo como termos que acreditar que bandidos não são bandidos, mas heróis do povo brasileiro. Que semântica! Por que tem uns que batem e quebram porque são libertários e, por isso, podem bater e quebrar. Outros são apenas reacionários perigosos, mesmo que não batam, nem quebrem.


Que semântica espetacular e inovadora, que não consegue ser entendida, interpretada, nem pelo doutor, nem pelo aluno! Nem pelo intelectual, nem por aquele que não passou por escola nenhuma, ou que passou, mas foi arrebanhado pela profusão de informações levianas e sem sentido da frivolidade cotidiana.

Uma semântica que só é entendida por aqueles que não possuem formação moral, nem comprometimento ético com o país. Apenas.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Ombra e Lutz... um trecho da "entrometença" (introdução em occitano)

    (...)Segurei meu cavalo até que Mathieu e Bonnet me alcançassem, o que fizeram com a maior cautela e silêncio. Apenas eu, um reles soldado que foi elevado à condição de cavaleiro pelo conde de Tolosa, os guardava. Eu, Sebah, conhecido como le Roc, que agora olhava para além da pequena clareira coberta de neve, onde os troncos de pinheiros estavam envoltos pela bruma e nada além se via, assim como o caminho que acabávamos de passar. A neve caíra durante a noite, muito mais cedo que o previsto e, embora em pouca quantidade, foi o suficiente para cobrir o solo com uma fina camada de gelo. 
    – Temos que arriscar – falei, sabendo que cada minuto perdido significava mais perigo, já que as patrulhas do exército cruzado varriam a região durante o dia e havíamos demorado mais tempo do que o previsto na descida. 
    – Então vamos – falou Bonnet, já dando o primeiro passo. 
    – Parece que vejo vultos – comentou Mathieu. 
   – O nevoeiro produz seus próprios fantasmas – falei, montando meu cavalo, assim como eles, porque não precisávamos mais puxá-los por caminhos tão estreitos costeando a rocha, que era difícil acreditar que havíamos passado. Adiantei-me pela neve rala e as patas do cavalo começaram a quebrar a fina superfície de gelo sobre ela, fazendo um barulho que nos causava arrepios, como se todo o exército inimigo fosse acordar com aquilo.  
     Quando estávamos no meio da clareira, os fantasmas do nevoeiro apareceram, um a um, e paramos estarrecidos. Da direita para a esquerda, por entre grossos troncos, cinco cavaleiros surgiram, montados em animais enormes e cobertos com mantos, onde eram desenhados os estandartes de cada casa. Não eram soldados, nem routiers6 e parece que sabiam que iríamos passar por ali, o que me levou novamente a crer que havia traidores entre nós. Seus paramentos e estandartes desenhados nos mantos mostravam que eram da nobreza, embora um deles se destacasse como comandante dos outros. 
     Nossos cavalos pareciam pôneis diante daqueles portentos que soltavam vapores pelas ventas e estavam irrequietos, como se já pressentissem cheiro de sangue e morte. (...)


   (...)Aproveitando da estupefação do momento, enquanto o nobre cavaleiro começava a despencar do cavalo, tentando tapar a grande ferida com a mão esquerda, disparamos nossos cavalos na direção da floresta. 
    Demorou poucos segundos para os demais cavaleiros se recobrarem do susto e partirem em nossa perseguição. Era o que eu queria. Posicionando meu cavalo adequadamente atrás dos troncos maiores, esperei que os três primeiros passassem e, num giro rápido da montaria, derrubei o último, batendo com minha espada em seu peito. O som da lâmina explodindo na cota de malha alertou seus companheiros, que logo viraram na minha direção, mas viram apenas meu vulto sumindo na bruma. Com isso já conseguira livrar meus companheiros da perseguição mais próxima. Eu estava tomado pela luta. Jamais eu teria coragem de sequer ferir uma pessoa no meu estado normal, porém, a batalha faz com que sejamos rapidamente tomados por uma febre de invencibilidade, até nos tornarmos vencíveis. Naquele momento eu não era vencível, e em poucos minutos todos estavam caídos em meio à floresta. Não estavam mortos, mas alguns deles estavam bastante feridos. Meu cavalo era um corcel pequeno e ágil, enquanto que os deles eram gigantescos, mas lentos. Minha obrigação era seguir atrás de Mathieu e Bonnet, mas eu sabia que a poucos passos dali havia um nobre caído na neve, talvez morto, se não fosse rapidamente socorrido. Era o que estava ferido mais perigosamente.                              
         Cutuquei meu cavalo, que respondia com rapidez, e em poucos segundos eu pulava para a neve, ao lado do cavaleiro. Usando de toda minha força, sempre descomunal, levantei-o, embora estivesse coberto de placas de metal e cota de malha, e levei-o para uma pedra um pouco mais alta. Removi o manto de seu cavalo e o envolvi, depois apanhei grandes punhados de neve, que se acumulava mais nas beiradas da pedra, e cobri a ferida sangrenta, causando ainda mais gemidos de dor. Ele só não morrera de hemorragia porque mantivera a ferida virada para baixo, em contato com o gelo, o que demonstrava sua experiência. Porém, se ficasse ali estendido na neve, morreria congelado, por isso eu o estava ajudando. Não queria carregar minha memória com o peso de mais uma morte. Meus bons amigos Anne Crestan e Pierre de Guilles passaram muitos anos me pregando o amor e a não violência, então, mesmo que eu me justificasse com a ideia de que havia apenas me defendido, sabia que não tinha agido certo segundo os preceitos do Cristo. Mais uma vez não havia conseguido dar a outra face. Como diria o bom abade Amadeu: uma espada nunca poderá fazer totalmente o bem! 
      Quando eu virei as costas para ir embora, sabendo que os cavaleiros que deixara caídos na floresta logo nos alcançariam, ou mesmo alguma outra patrulha do exército cruzado, o cavaleiro, com um fio de voz, me chamou:
      – Sebah...
      Sebah! Então ele sabia meu nome? Não demonstrou que me conhecia antes, quando me atacou.
      – Sim, meu nome é Sebah. Pensei que não me conhecia. 
    – Vamos... antes de partir... remova meu elmo... 
     Obedeci. Agora sua voz rouca estava quase inaudível. Com cuidado soltei as plaquetas metálicas e abri o elmo, depois o retirei. No mesmo instante ele sorriu e pousou sobre mim a luminosidade de seus olhos, profundamente azuis. O choque emocional que senti fez com que minhas pernas se dobrassem e eu caísse de joelhos. Como podia ser ele? Não era possível! (...)