sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

os professores prisioneiros

estou postando esse assunto como quem coloca uma massa de pão para crescer. Ainda não é o produto final. Minha esposa é professora numa faculdade particular de odontologia e recebeu um pedido de revisão de prova e, conversando sobre o assunto, fiquei mais uma vez abismado. Tem aluno gravando conversas com os professores, buscando uma brecha para processos. Tá muito difícil um professor reprovar um aluno de curso particular (corre até o risco de ser processado ou de perder o emprego). Por mais fraco que o aluno seja (imaginem-se como pacientes de um aluno fraco, um dia, momentos antes de uma cirurgia, matéria que ele conseguiu passar através de pressão permitida por lei), ele vai seguir adiante no seu currículo escolar, sem repetições e virar um "profissional". Tem se falado sobre o perigo que os professores da rede pública do ensino fundamental e médio têm corrido (alguns andaram apanhando, ou sofrendo ameaças de morte), mas é preciso falar, também, sobre o perigo que nós vamos correr com esses profissionais filhinhos de papais (com óbvias excessões, é claro), entrando no mercado sem nunca ter ouvido um não, ou mesmo uma recriminação por não estudarem o suficiente. Volto ao assunto com calma, mas já vou deixando a idéia vagando no ar e pedindo aos comentaristas habituais suas opiniões.

15 comentários:

Romacof disse...

Camargo! Comungo de sua indignação! A lei protege o despreparo para todas as profissões (com a tácita surdo-mudez para a lida política, o que não deixa de ser congruente)! Na medicina não é diferente! É arrepiante contatar com alguns neo-colegas! Acho que eles estão a espera de um "tricorder"!
Em tempo: Arthur passou por aqui e talvez o contate. Bata nele metaforicamente com a idéia do ambiente virtual para nós usarmos!

Anônimo disse...

E isso tudo com a conivência de todos nós.
Que, por mil motivos diferentes,nos calamos.
Sou de uma família de professores e sei que a coisa é pior do que o fato que relataste.
Chegou a hora de perguntar:
Que sociedade queremos no futuro?

Anônimo disse...

Camargo,
estava conversando sobre isso com uma aluna outro dia, ela professora de Logística em uma universidade particular. Ela tem que dar milhões de chances para o aluno recuperar as notas e provas perdidas, tudo pode ser questionado, o professor tem 'obrigação' de ensinar, mas o aluno não tem a mesma obrigação de 'aprender'.

A gente poderia até dizer que, no futuro, o mercado vai se encarregar de separar o joio do trigo. O problema é o tanto de vítimas que passarão pelas garras desses seres até isso acontecer...

abraço,
Mônica

mauro camargo disse...

obrigado pelos comentários. O anônimo está certo ao dizer que tem coisa pior, muito pior, ainda vem mais coisa na postagem completa.
Romacof, tricorder é ótimo, uma pitada de saudosismo neste assunto que chega parecer uma ficção. Estou esperando o Arthur contatar para dar-lhe umas pauladas metafóricas.
Monica, quando vemos o que aquele dentista de brasília fez recentemente, extraindo todos os dentes do paciente sem justificativa, percebemos que já estamos nas mãos deles.

EStou começando a instigar uma idéia com minha esposa. Existe um sindicato dos professores, então há um elo de união. Quem sabe se os professores começarem a se reunir em congressos específicos para discutir o assunto? Se alguém tiver sugestões pra regar essa idéia, em nome dos filhos que deixaremos para esse planeta, agradeço.

mauro camargo disse...

nossa!!! em nome dos filhos que deixaremos para esse planeta... foi o máximo. Parece discurso do presidente americano em filme de extinção da raça humana...

Anônimo disse...

É o seguinte,minha cunhada era avaliada pelos alunos.

Francamente, me parece bastante obvio que o aluno tem direitos,mas que aluno avalie professor é perder o caminho do bom senso.

Ela deu graças a deus quando conseguiu um doutorado,assim se livrou da sala de aula.

Que raio de sociedade é essa que professor foge de sala de aula?

A responsabilidade é de todos nós. E cabe a nós pararmos isso.
Proponho uma profunda reflexão de todos nós.

Porque deixamos passar tantas coisa para não nos aborrecermos.

Nos calamos e quando quisermos gritar já terão nos amordaçado.

Lamento dizer: isso que está acontecendo é muito sério.

Bom ver que não sou a única " antiquada" do pedaço,rs.

Anônimo disse...

É o seguinte,minha cunhada era avaliada pelos alunos.

Francamente, me parece bastante obvio que o aluno tem direitos,mas que aluno avalie professor é perder o caminho do bom senso.

Ela deu graças a deus quando conseguiu um doutorado,assim se livrou da sala de aula.

Que raio de sociedade é essa que professor foge de sala de aula?

A responsabilidade é de todos nós. E cabe a nós pararmos isso.
Proponho uma profunda reflexão de todos nós.

Porque deixamos passar tantas coisa para não nos aborrecermos.

Nos calamos e quando quisermos gritar já terão nos amordaçado.

Lamento dizer: isso que está acontecendo é muito sério.

Bom ver que não sou a única " antiquada" do pedaço,rs.

mauro camargo disse...

gostei anonimo, precisamos mesmo de alguma movimentação. Por sermos prisioneiros da anti incomodação, vai crescendo tanto joio neste trigo. Vou tentar juntar mais gente e ver o que acontece, vamos espalhando a idéia nos ventos virtuais, por enquanto.

Anônimo disse...

Não sei se concordam comigo,mas tenho saudade de um tempo em que existia respeito.
E olha que falo em respeito,não em moralismo,rs.
Existia respito até para discordar,se discordava com certa elegância.
Falando de escola, a escola não reprova mais, pois tem lá seus interesses financeiros.
E não entendo como uma pessoa pode passar em um vestibular sem saber nada,mas acontece.
E o pior,parece que estão tentando SELECIONAR quem pode ou não fazer doutorado ou mestrado.
Sem falar na prova da OAB,que quase ninguém passa.
Algo está errado,com certeza.

Meus sobrinhos que estudam em escolas caras(construtivistas) não sabem nada de nada.

Eu posso afirmar: a educação em nosso país vai de mal a pior.

mauro camargo disse...

de repente percebo que nem preciso mais postar alguma coisa sobre o assunto. Já está maduro nas pessoas com discernimento. Mas e então, o que podemos fazer? Por onde começamos a tentar mudar?

Anônimo disse...

1

Eu sempre achei que quele que detinha um maior conhecimento,tinha também uma maior responsabilidade perante aqueles que sabiam menos. Obvio que não acontece deste jeito.
Creio que não se calar já seja um começo. Como o que tu estás fazendo aqui.
O primeiro passo para que alguma coisa mude é assumir que algo está errado.

Estamos fazendo isso.

Anônimo disse...

2

O segundo passo,creio que seje uma melhor utilização do espaço virtual que temos.

Quais nossas armas?

O teclado e a ponte entre ele e os email de todos os políticos do país.

Já tentei fazer isso antes,mas não encontrei eco.

Eu,vocês,nós....todos juntos num efeito pirâmide podemos mostrar que temos poder para mudar algo.

Queremos respeito para os professores e para nós mesmos.

Os políticos dependem de nossos votos.

Se vivemos em uma democracia podemos agir como tal, ou não?

Anônimo disse...

Minha cunhada, que é professora universitária, me disse que não basta terminar um curso de nível superior para
fazer mestrado,doutorado e todas as pós que existem por aí.

Fiquei chocada, então estamos enganando nossos filhos.

Se o mestrado ou o doutorado deles depende da avaliação de alguém,o estudo deixou de ser um direito garantido por lei.

Até porque,milhares de estudantes se formam todos os anos. Certamente que nem todos estarão entre os primeiros colocados.

E nem todos serão geniais.

Minha outra cunhada, que também é professora universitária,disse: os alunos se formam mesmo sem saber o que devem e o mercado se encarrega de fazer a seleção de quem é bom ou não.

Fiquei mais chocada ainda.

E novamente os estudantes estão sendo enganados.

O que é um pecado monstruoso.
Quantos desses jovens irão se sentir discriminados,quantos saberão que nós somos os culpados disso e não eles?

Quantos terão suas vidas fracassadas por causa de nossa omissão?

Confesso que estou me sentindo muito mal com tudo isso.

Assumo minha omissão,minha ignorância no assunto e todas as coisas que não fiz até hoje
para mudar isso.

Arthur Golgo Lucas disse...

Eu sou professor. Dei aulas no segundo grau e na pós-graduação. Pulei fora porque não aturei o baixo nível intelectual e cultural dos alunos.

No segundo grau, durante as aulas, volta e meia eu avisava "isso aqui é questão de prova". Eu não podia tirar questões da bibliografia exigida na disciplina a não ser que tivessem sido trabalhadas em aula. A escola exigia que as questões fossem objetivas e de escolha simples "para acostumar os alunos com o vestibular". E eu deixava os alunos fazerem a prova tantas vezes quantas quisessem até obter a nota desejada, tinha um período reservado para isso toda quinta-feira. Um terço da turma não atingiu a nota CINCO. Pulei fora.

No pós-graduação, eu me soltei mais. Mandava ler os textos em casa, discutia o assunto em aula, tirava as dúvidas de quem as apresentava. Fiz um teste-relâmpago para avaliar o progresso da turma e como resultado decidi fazer a avaliação do semestre em um trabalho de casa, porque a nota média do teste não atingiu CINCO. Um quinto dos alunos não entregou o trabalho. Três quintos copiaram dos colegas, dei C pra todos porque o coordenador do curso disse que, se eu rodasse todos os que fizeram isso, ele seria destituído por ter me contratado. O um quinto restante dos alunos fez o que devia e levou notas entre B e C. Somente dois alunos em trinta e cinco levaram A. Pulei fora.

"Ah, Arthur, mas você deveria ter levado em consideração o nível da turma para fazer as provas."

Eu fiz isso. Fiz provas para o nível de débil mental lobotomizado nas duas ocasiões. Em um semestre eu não podia resolver uma década e meia de ensino medíocre, então pulei fora para não me estressar.

Cogito seriamente a possibilidade de abrir uma escola. Não quero que meus (futuros) filhos freqüentem as escolas - públicas ou particulares - de hoje. A coisa está muito feia.

mauro camargo disse...

se pensarmos bem, o estudo no brasil está como a política: QUASE SEM ESPERANÇA.
E sem bom estudo, não há boa política, e sem boa política, não há bom estudos...
então?