quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Cadê os programas de música?

Tudo bem que não tem como resgatar “o fino da bossa”, e já vai longe o tempo de “Chico & Caetano", muito mais longe vão os grandes festivais. Porém, estamos vivendo uma era tão anti musical da tv ibope, aquela que a maioria assiste, que até Globo de Ouro dá saudade. Afora os programas pouco vistos de tvs educativas ou tv senado, a música que se ouve e vê na tv é do mais baixo nível, genericamente falando, e o assunto permite derivações interessantes.
A ditadura no Brasil forjou, dolorosamente, uma geração que ouvia qualidade musical num volume infinitamente maior do que o presente, cheio de mornas liberdades democráticas. É claro que viva a liberdade democrática, mesmo que se vá ficando “atoladinha” com ela e cada um vivendo só no seu quadrado. Música de mau gosto havia também naquela época, mas era quase trucidada por uma tsunami de grandes cantores e compositores, festivais e programas de música variados, ocupando grandes espaços na mídia. Hoje é exatamente o inverso e a cultura em geral segue o mesmo caminho ladeira abaixo.

Sim, mas antes da ditadura também se produzia qualidade musical. Não tenho competência histórica para relacionar motivos, mas é bom pensar que na época da boa boemia o crime era de navalha e andava-se pelas madrugadas acompanhado de violão, risos e poemas, sem se olhar muito para os lados.
O advento da liberdade democrática nos deixou mornos. A falta cruel de investimento em educação dos governos que se sucedem, levou a tv, sedenta por vender vender vender, a criar fazendas e big brothers, ratinhos e outros roedores que vão destruindo rapidamente a inegável capacidade artística do brasileiro. Por que, sem dúvida, tem muito brasileiro bom compondo boa música, boa arte (felizmente conheço vários na minha região e imagino o que não tem pelo Brasil todo), mas, mostrar pra quem? Vender pra quem? O que vende é a mediocridade.

Uma época até andou rolando um ou outro reality show musical, que se pagava uma boa grana ao vencedor, ou direitos a produção de cds e contato com a mídia. Roberta Sá vem desse balaio tão pouco usado pra carregar cultura da telinha para as pessoas. Hoje vemos quase que tão somente apenas a cultura da mediocridade e nem preciso repetir o nome de determinados programas. Um milhão e meio pra quem for mais medíocre. Pode? Caramba, por que não fazem prêmios assim para cientistas que desenvolvam projetos para melhorar qualidade de vida? Imaginem um reality científico. Imaginem um reality cultural.

Tudo bem, não daria audiência. A escolaridade é baixa, a cultura geral também.

***

Em tempo: Aproveitando o andamento do enredo acima, o que vi no carnaval desse ano, embora tenha tido pouquíssima paciência para ver, foi um retrato dessa tendência de mesmice cultural decadente. Sempre fui ligado nos sambas de enredo, mas faz um tempão que não se ouve um que fique na memória. Com pouquíssimas excessões, são quase todos iguais, sem encantamento. Não quero advogar aquelas idéias que no meu tempo era melhor. Acho mesmo que tudo tem que ter seu andamento contemporâneo, mas, um bum bum paticumbum procurundum pra quem lembra dessa, cheia de encanto (lembrando que a melodia seguia a qualidade da letra):

Sonhar não custa nada
O meu sonho é tão real
Mergulhei nessa magia
Era tudo que eu queria
Para esse carnaval
Deixe a sua mente vagar
Não custa nada sonhar
Viajar nos braços do infinito
Onde tudo é mais bonito
Nesse mundo de ilusão
Transformar o sonho em realidade
É sonhar com a mocidade
É sonhar com o pé no chão
Estrela de luz
Que me conduz
Estrela que me faz sonhar
Amor, sonhe com os anjos (não se paga)
Não se paga pra sonhar
Eu sou a noite mais bela
Que encanta o teu sonho
Te alucina por te amar (amar, amar)
Vem nas estrelas do Céu
Vem na lua de mel
Vem me querer
Delírio sensual
Arco-íris de prazer
Amor, eu vou te anoitecer
Eu vejo a lua no céu
A mocidade a sorrir
De verde-e-branco na Sapucaí

Composição: Paulinho Mocidade, Dico da Viola e Moleque Silveira

11 comentários:

Eu disse...

Oi Mauro... eu também sinto muita falta dos antigos festivais de musicais da TV. Atualmente ouvir música de qualidade requer saber escolher programas em canais pagos, os canais abertos que atingem a maioria das classes sociais, as músicas são difíceis de serem ouvidas.
E por falar em carnaval... Fui a uma cidade do interior de Minas para uma festa de carnaval... Para minha surpresa, chegando lá só havia Funk e pagode...(risos)

Um abraço carinhoso com muita melodia!

Arthur Golgo Lucas disse...

Imagina que emocionante assistir pela TV um campeonato de xadrez com trilha sonora de música erudita. :)

É, acho melhor nenhum de nós pedir uma concessão de TV para tentar peitar a audiência da Globo... :P

Hélio Jorge Cordeiro disse...

Mauro, deixa do jeito que tá, meu caro. Só assim, a boa música, fica somente pra nós ouvirmos. rsss

mauro camargo disse...

olá pessoal, to chegando da Ilha do Mel, por isso demorei a responder. obrigado pelos cometários.
Tatiana, o carnaval aqui por floripa e balneário camboriú tb tá na mesma onda musical. Mas também, ficar ouvindo será que ele é ou balancê tb não dá mais. Nessa situação é o bicho pegar ou comer...
Arthur, o pior é saber que se tivéssemos um programa muito menos, mas muito menos cult, também não teria audiência plausível...
Hélio, falou com sapiência. Que privilegiados que somos!

Anônimo disse...

Camargo,
teve um prefeito aqui em Minas que baixou um decreto proibindo funk e pagode no carnaval... :-)

O samba da Portela este ano não foi exatamente brilhante, mas era simples e grudava na cabeça - o que é funciona bem na avenida, com a arquibancada cantando junto. O maior mistério pra mim é o da União da Ilha: é dela dois dos sambas mais lindos das últimas décadas (O Amanhã e É Hoje) e, depois disso, não fizeram mais nada, creio. Uma pena.

Quanto a TV, é isso mesmo, um horror. O que significa que prefiro sair garimpando novidades aqui mesmo pela internet...

abraço,
Mônica

mauro camargo disse...

embora não conheça nada das entranhas dessas grandes escolas, creio que deve rolar uma baita politicagem na hora de escolher o samba... até Paulinho da Viola já sofreu com isso na Portela. Daí vem essa solução de continuidade entre brilhos e opacidades...

romacof disse...

Quando não é possível derrotá-los junte-se a eles! Ganhe dinheiro com a mediocridade. Faça letras de funk. (Quase um contra-senso: letra e funk! mas como Zorra Total é vice-lider de audiência...! o país está fértil para este nicho - não disse lixo!)

"Eu conheço um padeiro
O nome dele é Beludo
As cachorras fazem fila
Pra comer a cuca dele
Todo dia é aquela zorra
Tem cuca Beludo?
Tem cuca Beludo?
Zungo-fungo-Nhoque-Zum-na padaria.

mauro camargo disse...

espetacular... vinícius e tom se remexendo de horror do lado de lá...
zorra total vice lider!

como diz um amigo meu: vou abandonar a profissão e montar uma tenda pra ler tarô na praia...

Anônimo disse...

grande MAuro

Beto Maranha disse...

consegui, viva!!

mauro camargo disse...

salve beto, o herói das 3 pontes... seja bem vindo, e volte sempre...