Tenho aberto muitas janelas
Com o tempo
Tantas
Elas mudam, é claro
E o que vejo por elas muda, é claro
Tanto
e tanto
Não vejo mais meu pai me acenando
Quando vinha do trabalho
minha mãe podando as roseiras
Nem escuto a cantoria do homenzinho que limpava o jardim
Faz tempo
Tantas janelas
Não vejo a vizinha me procurando
Escondida atrás da cortinas
15 anos, 16...
Faz tempo
A memória fica
As imagens se apagam
Tantas e tantas
Mudaram, eu mudei
Onde foram as nuvens rápidas e o azul?
Onde foram meus filhos
Que brincavam no jardim?
Quem ainda baterá leve na veneziana
Na hora de sair?
Onde estão os pássaros pendurados nos fios
tantos fios e pipas
e hoje até escuto que logo não existirão mais
os fios (e as pipas)
As paisagens são outras todo dia
Já vi gramados e hortênsias
Já houve mar, prédios
e solidão
Tantas vezes
Mas sempre muda
Sempre eu mudo
Folhas que caem, outros poentes
Vontades que vão ficando, ou passam
O tempo passa
E quando penso em olhar ao contrário
Lá de fora para dentro
Vejo tanta coisa tão igual
Com maquiagens diferentes
Vejo principalmente
E às vezes tão somente
O grande problema humano tatuado em mim
Com cores fortes e recorrência:
A vontade
Tão grande vontade de ter
Bem maior que a possibilidade de ter
E sinto-me repentinamente vazio
Descubro que o baú da vida tem espaço demais sobrando
Porque sobrou vontade... muita vontade...
Corro pensar em ser
Mas antes fecho a janela
Deixo pra abrir outro dia
Pra pensar outro dia
Porque outro dia vem
O tempo passa
outras janelas
A vontade muda
E a maquiagem dela também...
2 comentários:
hhmmm... gostei da repaginada!
Mônica
foi meio acidental... mas ficou interessante...
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