terça-feira, 15 de novembro de 2011

a janela e o tempo


Tenho aberto muitas janelas

Com o tempo

Tantas

Elas mudam, é claro

E o que vejo por elas muda, é claro

Tanto

e tanto

Não vejo mais meu pai me acenando

Quando vinha do trabalho

minha mãe podando as roseiras

Nem escuto a cantoria do homenzinho que limpava o jardim

Faz tempo

Tantas janelas

Não vejo a vizinha me procurando

Escondida atrás da cortinas

15 anos, 16...

Faz tempo

A memória fica

As imagens se apagam

Tantas e tantas

Mudaram, eu mudei

Onde foram as nuvens rápidas e o azul?

Onde foram meus filhos

Que brincavam no jardim?

Quem ainda baterá leve na veneziana

Na hora de sair?

Onde estão os pássaros pendurados nos fios

tantos fios e pipas

e hoje até escuto que logo não existirão mais

os fios (e as pipas)

As paisagens são outras todo dia

Já vi gramados e hortênsias

Já houve mar, prédios

e solidão

Tantas vezes

Mas sempre muda

Sempre eu mudo

Folhas que caem, outros poentes

Vontades que vão ficando, ou passam

O tempo passa

E quando penso em olhar ao contrário

Lá de fora para dentro

Vejo tanta coisa tão igual

Com maquiagens diferentes

Vejo principalmente

E às vezes tão somente

O grande problema humano tatuado em mim

Com cores fortes e recorrência:

A vontade

Tão grande vontade de ter

Bem maior que a possibilidade de ter

E sinto-me repentinamente vazio

Descubro que o baú da vida tem espaço demais sobrando

Porque sobrou vontade... muita vontade...

Corro pensar em ser

Mas antes fecho a janela

Deixo pra abrir outro dia

Pra pensar outro dia

Porque outro dia vem

O tempo passa

outras janelas

A vontade muda

E a maquiagem dela também...

2 comentários:

Anônimo disse...

hhmmm... gostei da repaginada!
Mônica

mauro camargo disse...

foi meio acidental... mas ficou interessante...