Calma! Ainda há
lugar para ela, mesmo com o ambiente físico e psicológico das pessoas
conturbado como anda. A população aumenta e o espaço diminui, então nos
esbarramos mais, tem mais velhinhos andando lentos na calçada quando estamos
com pressa; tem mais pessoas querendo chegar antes de você na fila, qualquer
fila. Tem mais pessoas dividindo a fatia de remuneração que lhe cabe por seu
trabalho. O mercado globalizado e capitalista é competitivo por natureza, precisa
ser assim para existir e estamos inexoravelmente atrelados a ele, ao menos
enquanto precisamos comprar, pagar, vender. As pessoas andam mais irritadas.
Parece que qualquer motivo pequeno é o suficiente para que o dia estrague e, se
estragarem o meu dia, eu estrago o dia dos outros, é justo. Calma! Ainda há
lugar para paz. Mesmo com o governo instituído não nos devolvendo quase nenhuma
cidadania pelo que pagamos (e como pagamos!) de impostos. Mesmo com tudo
custando tão caro, quase sempre. O silêncio anda caro. Locais bonitos foram
comprados por quem tem mais dinheiro, para alguns poucos usarem, ou, se
permitem a nós usarmos, temos que pagar, e caro, obviamente. Quase tudo hoje em
dia tem seu preço em moeda. O silêncio e o por do sol no mar está custando
quase uma fortuna, daí a pessoa trabalha e trabalha e compete e corre e cansa e
descobre que não pode pagar pelo silêncio e pelo por do sol bonito, ou aquele
lugar que era de graça agora tem uma cerca de arame farpado no caminho. A
pessoa se irrita, e tem que pagar o colégio, o plano de saúde, a vigilância
privada, a seguridade privada e trocar o amortecedor que quebrou naquele
maldito buraco na estrada... Calma! Calma porque as pessoas partem. É tão
natural as pessoas partirem como pagarmos as contas. Ficamos tristes, mas é da
vida, todos partiremos, mas na hora certa, não antecipe sua partida por
bobagens. Ainda vão furar muito a fila na sua frente. Ainda vão lhe fechar no
trânsito ou mesmo baterem na traseira do seu carro. Quem sabe não será você que
vai bater na traseira de alguém? Ainda vão roubar alguma coisa valiosa de você,
hoje em dia quase ninguém mais escapa disso (eu que o diga!). Você poderá ser
vítima de crimes virtuais. Seu filho ou filha vai tirar notas baixas. Os problemas
continuam e o valor que damos a eles tem uma tendência a aumentar, porque o
círculo vicioso do mercado competitivo, da sociedade competitiva, nos leva a
isso. Então, calma! Tudo se resolve. Se não resolver, o tempo atenua. Nesta
época de Natal há uma energia ainda mais desarmônica circulando: a da ansiedade
pelo fim de ano, pelo comprar presentes, pelo fazer a festa... mas o dinheiro anda
curto... as pessoas se irritam e olham atravessado se você bobear, por nada, e
podem xingar sem razão. Não responda. Não deixe seu ambiente psicológico
poluído de irritação, porque sua mente vai responder no mesmo sentido e, de
repente, você estará xingando alguém por bobagem, tratando mal quem partilha a
vida com você, por bobagem. Calma! Muita calma, mesmo com o dinheiro faltando;
mesmo com o chefe arrogante ou com o colega puxa-saco; mesmo com o filho
desobediente ou a conta do banco negativa (opa! Nisso não tanta calma assim...
resolve logo que na outra ponta um monstro pode lhe devorar rapidamente). Mesmo
com a doença e com os remédios caros; se não há saída, confie na vida, é
espantoso a capacidade dela de encontrar novos cominhos para nós. Sorria mais. Diga
bom-dia! Não custa. Prepare seu ambiente para um natal mais calmo, sem tanta
necessidade de ostentação material. Crie ao seu redor um ambiente psicofísico equilibrado,
e o mundo, e as pessoas, tenderão a responder a você da mesma maneira. Não se
irrite tanto, diminua a voltagem, o coração agradece... a mente, o corpo todo.
Porque o ritmo desenfreado da vida ainda vai aumentar e ficará cada vez mais
difícil acharmos um barranco de rio sem uma cerca; uma praia pouco movimentada
onde se possa deixar o carro e encontrá-lo inteiro quando voltar; um
restaurante bom, barato, silencioso e com pouca gente; pessoas educadas e
éticas. E se o problema de hoje é insolucionável, insolucionado está. Lembre dos
problemas insolucionáveis de alguns anos atrás e como eles estão agora. Terá
surpresas. Calma! Olhe para o seu cantinho e veja que pode melhorar nele sem
gastar muito. Desfrute do prazer de fazer coisas simples. Abrace a família, os
amigos, faça com que todos sintam seu coração pulsando por eles. Isso vale
muito mais que presentes caros. Cultive a paz interiormente, porque, do lado de
fora, ela está cada vez mais cara e difícil de encontrar, mas dentro de nós não
há porque instalarmos cercas. O preço dela somos nós que estipulamos. De
preferência, que seja de graça. O mundo em que vive será melhor.
5 comentários:
Só ficou faltando a linha pontilhada pra eu assinar embaixo... :)
abr.
Mônica
Feliz Natal pra você também!
obrigado amigos... estive no Rio de Janeiro este final de semana, tinha compromissos com a editora... aí é que vi o quanto ainda moro numa cidade tranquila... lá tá precisando muiiiita CALMA...
Rapaz!!...
olá Paulo, obrigado pela visita...
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