O PT publicou sua primeira carta com resoluções partidárias pós eleição. Dentro de um mundo político em que a maioria dos partidos é apenas um ajuntamento de letras (e tenho certeza de que muitos dos seus membros não conhecem a linha ideológica do seu próprio partido), acho extremamente válida esta exposição. Adianto que não concordo, ideologicamente, com muitas destas resoluções. Na verdade, não concordo com o falso socialismo, ou o comunismo totalitário disfarçado de democracia e acho que as resoluções são um caminho aberto para uma dominação ampla, geral e irrestrita do PT, como futuro partido único do Brasil. Ou seja, clássica ditadura de esquerda, onde tudo é lindo e todos têm liberdade, desde que não sejam contrários ao governo.
Porém, acho ótimo que as ideias sejam claramente expostas, para que as pessoas (eleitores) possam realmente saber o que ou quem estão defendendo, apoiando ou votando.
Está tudo aqui, e acho que todos que querem fundamentar um pouco mais seu conhecimento político, ou mesmo aqueles que pretendem fazer críticas que não sejam do tipo outdoor (que não chama mais a atenção de ninguém), devem ler:
oooops... em tempo, no dia seguinte depois que publiquei o link passou a direcionar para o site do partido e não mais para a carta. Então, para ficar mais fácil, estou colocando ela toda aqui, na sequência...
RESOLUÇÃO POLÍTICA
A reeleição da companheira Dilma Rousseff para presidir o Brasil até 31
de dezembro de 2018 é uma grande vitória do povo brasileiro. Uma
vitória comemorada por todos os setores democráticos, progressistas e
de esquerda no mundo e, particularmente, na América Latina e no
Caribe.
Uma vitória sobretudo do PT e do nosso projeto, que conquista um
quarto mandato, algo que nenhum outra força política havia
alcançado até agora no País.
Foi uma disputa duríssima, contra adversários apoiados pela direita,
pelo oligopólio da mídia, pelo grande capital e seus aliados
internacionais. Vencemos graças à consciência política de importantes
parcelas de nosso povo, da mobilização da antiga e da nova
militância de esquerda, da participação de partidos de esquerda e da
dedicação e liderança do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma.
Nossa candidata soube conduzir a campanha com firmeza e sem
recuos, mesmo nos momentos mais difíceis. O enfrentamento com o
adversário em debates comprovou o preparo e a diferença da nossa 2
presidenta para vencer os desafios da atual conjuntura.
A oposição, encabeçada por Aécio Neves, além de representar o
retrocesso neoliberal, incorreu nas piores práticas políticas: o machismo,
o racismo, o preconceito, o ódio, a intolerância, a nostalgia da
ditadura militar.
Inconformada com a derrota, a oposição cai no ridículo ao questionar
o resultado eleitoral no TSE. Ainda ressentida, insiste na divisão do País e
investe contra a normalidade institucional. Tenta chantagear o governo
eleito para que adote o programa dos derrotados.
Para afastar as manobras golpistas e assegurar à presidenta Dilma um
segundo mandato ainda melhor que o primeiro, o processo de
balanço das eleições — que este documento abre mas não encerra —
deve apontar para iniciativas de curto, médio e longo prazo, que
dizem respeito, inclusive, ao desempenho e funcionamento do PT. Os
textos apresentados como contribuição ao balanço devem ser
amplamente divulgados no site do partido, até a próxima reunião do
Diretório Nacional.
Cabe, desde já, analisar os resultados das eleições estaduais,
majoritárias e proporcionais; o comportamento das classes e setores
sociais na campanha; o papel dos movimentos sociais; a atuação dos
partidos políticos, inclusive a dos aliados; a movimentação do campo
democrático-popular; a batalha da cultura e da comunicação; a 3
mídia e as redes sociais — enfim, variáveis importantes não apenas
para avaliar o resultado eleitoral, mas, sobretudo, para construir uma
estratégia e um novo padrão de organização-atuação, necessários
para seguir governando, indispensáveis para continuar transformando
o Brasil.
É urgente construir hegemonia na sociedade, promover reformas
estruturais, com destaque para a reforma política e a democratização
da mídia. Para tanto, antes de tudo é preciso dialogar com o povo,
condição vital para um partido de trabalhadores.
Para que a presidenta Dilma possa fazer um segundo mandato superior
ao primeiro, será necessário, em conjunto com partidos de esquerda,
desencadear um amplo processo de mobilização e organização dos
milhões de brasileiros e brasileiras que saíram às ruas para apoiar Dilma
Rousseff, mas também para defender nossos direitos humanos, nossos
direitos à democracia, ao bem estar social, ao desenvolvimento, à
soberania nacional.
As eleições de 2014 reafirmaram a validade de uma ideia que vem
desde os anos 1980: para transformar o Brasil, é preciso combinar ação
institucional, mobilização social e revolução cultural.
O Partido dos Trabalhadores, como principal partido da esquerda
brasileira, está convocado a encabeçar este processo de mobilização
cultural, social e política. Que exigirá renovar nossa capacidade de 4
compreender a sociedade brasileira, a natureza do seu
desenvolvimento capitalista, a luta de classes que aqui se trava sob as
mais variadas formas.
Realizar um balanço como propomos demandará um certo tempo,
necessário para analisar variados aspectos, consolidar os dados
mensuráveis, ouvir as distintas opiniões, produzir uma reflexão à altura
do processo extraordinariamente rico que vivemos, só comparável à
campanha de 1989.
O 5º Congresso do Partido dos Trabalhadores deve converter-se neste
processo de diálogo entre o Partido e estes milhões que foram às ruas
defender a reeleição de Dilma Rousseff. Um diálogo tanto com os
petistas quanto com aqueles que não são do PT e que criticam, sob
diferentes ângulos, nosso Partido.
Cabe ao Diretório Nacional do PT, convocado para os dias 28 e 29 de
novembro de 2014, aprovar uma agenda congressual que preveja
debates abertos a toda a militância que se engajou em defesa da
candidatura Dilma, bem como um momento final que possibilite a
síntese e o salto de qualidade tão necessários para que o Partido seja
capaz de, tanto quanto superar seus problemas atuais, contribuir para
que o segundo mandato de Dilma seja superior ao primeiro.
Porém, certas medidas, impostas pela realidade internacional e
nacional, mas principalmente pela atitude de reação permanente da 5
oposição, precisam ser tomadas imediatamente.
Por isso, propomos:
1. Conclamar a militância a participar dos atos em defesa da
democracia e da reforma política, previstos para a semana de 9
a 15 de novembro;
2. Adotar iniciativas para dar organicidade ao grande movimento
político-social que venceu o segundo turno das eleições
presidenciais. Compor uma ampla frente onde movimentos
sociais, partidos e setores de partidos, intelectuais, juventudes,
sindicalistas possam debater e articular ações comuns, seja em
defesa da democracia, seja em defesa de reformas
democrático-populares;
3. Priorizar ações de comunicação, fortalecendo nossa agência de
notícias, articulando-a com mídias digitais, com ação
permanente nas redes sociais. Integrar nossas ações de
comunicação com o rico movimento cultural em curso no País.
4. Relançar a campanha pela reforma política e pela mídia
democrática, contribuindo para que o governo possa tomar
medidas avançadas nestas áreas e para sustentar a batalha que
travaremos a respeito no Congresso Nacional.
5. Organizar caravanas a Brasília para realizar uma grande festa 6
popular no dia da segunda posse da presidenta Dilma Rousseff.
6. Reafirmar o compromisso do PT com a seguinte plataforma:
a) a reforma política, precedida de um plebiscito, através de uma
Constituinte exclusiva;
b) democracia na comunicação, com uma Lei da Mídia Democrática;
c) democracia representativa, democracia direta e democracia
participativa, para que a mobilização e luta social influenciem a ação
dos governos, das bancadas e dos partidos políticos. O governo
precisa dar continuidade à participação social na definição e
acompanhamento das políticas públicas e tomar as medidas para
reverter a derrubada da Política Nacional de Participação Social,
objeto de um decreto presidencial cancelado pela maioria
conservadora da Câmara dos Deputados no dia 28 de outubro de
2014;
d) a agenda reivindicada pela Central Única dos Trabalhadores, na
qual se destacam o fim do fator previdenciário e a implantação da
jornada de 40 horas sem redução de salários;
e) o compromisso com as reformas estruturais, com destaque para a
reforma política, as reformas agrária e urbana, a desmilitarização das
Polícias Militares;7
f) salto na oferta e na qualidade dos serviços públicos oferecidos ao
povo brasileiro, em especial na educação pública, no transporte
público, na segurança pública e no Sistema Único de Saúde, sobre o
qual reafirmamos nosso compromisso com a universalização do
atendimento e o repasse efetivo e integral de 10% das receitas
correntes brutas da União para a saúde pública;
g) ampliar a importância e os recursos destinados às áreas da
comunicação, da educação, da cultura e do esporte, pois as grandes
mudanças políticas, econômicas e sociais precisam criar raízes no
tecido mais profundo da sociedade brasileira;
h) proteção dos direitos humanos de todos e de todas. Salientamos a
defesa dos direitos das mulheres, a necessidade de criminalizar a
homofobia, o enfrentamento dos que tentam criminalizar os
movimentos sociais. Afirmamos o compromisso com a revisão da Lei da
Anistia de 1979 e com a punição dos torturadores. Assim como com a
reforma das polícias e a urgente desmilitarização das PMs, cuja
ineficiência no combate ao crime só é superada pela violência
genocida contra a juventude negra e pobre das periferias e favelas;
i) total soberania sobre as riquezas nacionais, entre as quais o Pré-
Sal, e controle democrático e republicano sobre as instituições que
administram a economia brasileira, entre as quais o Banco Central, a
quem compete entre outras missões combater a especulação 8
financeira.
O Partido dos Trabalhadores considera que são medidas políticas e
diretrizes programáticas amplas, envolventes, de natureza mais social
que institucional, que farão a diferença nos próximos quatro anos.
Desde 1989, o PT polariza as eleições presidenciais. Nas sete eleições
presidenciais realizadas desde então, perdemos 3 e vencemos 4. Mas
esta de 2014 foi a mais difícil já disputada por nós, em que ganhamos
enfrentando um vendaval de acusações não apenas sobre nossa
política, mas sobre nosso partido. Neste sentido, o Partido tem que
retomar sua capacidade de fazer política cotidiana, sua
independência frente ao Estado, e ser muito mais proativo no
enfrentamento das acusações de corrupção, em especial no
ambiente dos próximos meses, em que setores da direita vão continuar
premiando delatores.
O PT deve buscar participar ativamente das decisões acerca das
primeiras medidas do segundo mandato, em particular sugerir medidas
claras no debate sobre a política econômica, sobre a reforma política
e em defesa da democracia nos meios de comunicação. É preciso
incidir na disputa principal em curso neste início do segundo mandato:
as definições sobre os rumos da política econômica.
O PT precisa estar à altura dos desafios deste novo período histórico.
Sobretudo, precisa honrar a confiança que, mais uma vez, o povo 9
brasileiro depositou em nós. Não o decepcionaremos: com a estrela
vermelha no peito e um coração valente, avançaremos em direção a
um Brasil democrático-popular.
Brasília, 03 de novembro de 2014
Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores
PT.ORG.BR