terça-feira, 25 de março de 2008

outono

Por onde andam todos?

Já é outono

e caíram algumas folhas pela minha janela.

O tempo engoliu-me em seus vórtices

tragou-me de agonias e velhices

não me deixou ser

não me permitiu ter idades

marco-me por sentimentos e estações

por folhas que caem na minha janela

e por pessoas que partiram

antes de todos os outonos

vivo

por saber que vivo

e por perguntar onde andam todos

cada vez que lembro

o outono do meu tempo

viver não é um contar de tempo

e sim um contar de amores.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Roberta Sá... uma dica...

Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida... na parede da memória, essa lembrança é o quadro que dói mais...
cada vez que não passamos "com" o tempo, o saudosismo vai aprofundando raízes nos nossos gostos, ou pior, na nossa sensibilidade. Daí, muitas vezes sem percebemos, começamos a ficar chatos.
Cada vez que não passamos "como" o tempo ficamos lembrando e relembrando e tentando reviver tantas músicas, tantas pessoas, filmes, situações, peças, viagens, sentimentos... é inevitável que percamos a percepção das boas coisas contemporêneas que nos rodeiam... e isso é um grande fiasco pra quem gosta da arte, qualquer arte.
É impossível viver sem saudade (tristes os que conseguem). Temos um repertório artístico formidável que passou pelo tempo que vivemos, ou mesmo antes disso, mas como podemos ficar chatos se não soubermos criar novos passados: músicas, pessoas, filmes, situações, peças, viagens, sentimentos...
A música talvez seja um campo onde mais os chatos ficam os pés no passado. E como é bom ouvir esse passado! Porém, a sensatez pede desprendimento; a evolução pede atenção ao novo, com as portas do coração abertas e aquela afinada capacidade de separar o joio do trigo sempre ativa...

A Roberta Sá, ao meu ver, tá conseguindo a sintonia do tempo que foi com o que está... e espero com o que vem... Alguns podem até dizer que ela não é mais novidade e eu concordo. Mas poucos ainda a conhecem. Tá cantando muito, tanto aquelas músicas que se enraizaram profundamente em nós, como uma gama de coisas boas e novas, de gente que não deixa o tempo somente ir passando...

Uma amostrinha
Janeiros
Roberta Sá
Composição: Roberta Sá e Pedro Luís

É como o vento leve em seu lábio assobiar

A melodia breve lembrando brisa de mar
Mexendo maré num vai e vem pra se ofertar
Flor que quer desabrochar, nasceu
Dourando manhã...
Bordando areia
Com luz de candeia pra nunca se apagar.

Já passaram dias, inteiros
Janeiros, calendário que nunca chega ao fim
Início sim e só recomeçar.

Se ainda não conhecem e querem conhecer, entrem no site oficial (www.robertasa.com.br) e se deliciem... é claro que tem como baixar o três albuns dela, mas dá pra entrar numa loja e pedir também.

domingo, 16 de março de 2008

simples


às vezes precisamos de uma varanda
que se abra para um campo verde amanhecendo
com alguma neblina bordando a solidão
e também do alarido de cata-ventos
de crianças seminuas um pouco distante
catando o tempo que não se importam em ver passar
e ter ao lado alguém que se possa dizer amar

sem palavra alguma que seja feita pra explicar
onde o vento espalhe pétalas arredias
e o silêncio seja maior que a necessidade da voz
onde a maior violência seja a terra por arar
ou os ramos mais velhos por podar
onde a maior tristeza seja a do tempo escoando
pela nossa necessidade de amar...

terça-feira, 11 de março de 2008

merece olhar

os links relacionados aí do lado merecem uma visita... são especiais.

doce abandono

Ah! Querida
Os olhos teus
Não deixes que o tempo me leve
No seu brusco passar
Sem que eu o veja
Nos olhos teus
Ah! Querida
Os lábios teus
Não deixes, por favor, não deixes
Que o tempo me esqueça
Sem que eu o beba
Nos lábios teus
E o abraço teu
Encontro e solidão
Não deixes que o tempo me abandone
Sem o abandono dos braços teus
O longo abandono dos braços teus
O doce abandono dos braços teus...

segunda-feira, 10 de março de 2008

coisa de índio... e cães


um velho índio descreveu certa vez seus conflitos internos:

- Dentro de mim existem dois cachorros, um deles é cruel e mau, o outro é muito bom e dócil. Eles estão sempre a brigar.

Quando então lhe perguntaram qual dos cachorros ganharia a briga, o índio respondeu:

- Aquele que eu alimentar.

meio olhar

meio olhar

era um olhar meio olhar
não era inteiro
e tua mão vinha sem destino
teu coração sem paradeiro
tua boca dizia esperas
todas as esperas
e eu trazia chegadas
de bem longe
outras estradas
e roçava tua pele com outra alegria
que não era tua
deslizava meus dedos de brisa na tua alma nua
tua vontade nua
e escorregava teu suor na minha palma
rasgava incoerente tua infalível calma
e amparava em meu corpo
teu corpo
tua sutil agonia
tua contração de incredulidade
nos músculos retesados de saudade
daquilo que ainda buscamos
sonhos esquecidos
mundos perdidos
mas que não sabemos se existem
ou são meras ilusões dos sentidos